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Baia sem h, nem entrada franca
Amanhã, 1º de novembro, a milenar Kirimurê dos Tupinambás contabilizará 520 anos de posse pelo império português. Rebatizada de Baia de Todos os Santos, essa dádiva de natureza deu nome à cidade, à capitania e ao Estado. O topônimo Salvador só começou a ser usado quando as companhias de aviação precisaram distinguir a capital de outros destinos no Estado. Ainda hoje Salvador é conhecida no exterior como Bahia.
A BTS, a mais importante angra do Atlântico Sul e apoio à rota para o Oriente, permitiu a criação da primeira região metropolitana do Brasil formada pelas vilas-portos de Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe, Jaguaripe, Nazaré e Valença. Saveiros traziam açúcar e fumo para Salvador para ser exportado para a Europa e Oriente. Pela mesma via chegavam ao Recôncavo e ao sertão os manufaturados lusos, louças, tecidos e especiarias orientais.
Sua primeira marginalização ocorreu, em meados do século XIX, com a crise do açúcar e o advento da navegação a vapor, seguido pela abertura das rodovias. Sua segunda marginalização de deu com a substituição da Cia de Navegação Baiana pelo ferry boat, na década de 1960, servindo apenas a Itaparica. A total marginalização do Recôncavo e da hidrovia ocorrerá com a ponte chinesa de SSA-Itaparica. Nossas autoridades nunca compreenderam o imenso potencial econômico, cultural, turístico e esportivo da BTS.
A ilha de Itaparica cantada por João Ubaldo e Miriam Fraga será transformada num porto-seco/favelão, como São Cristóvão, berço da ponte Rio-Niterói. As jamantas que não poderão entrar em Salvador deixarão em Vera Cruz suas cargas para caminhões-baús distribuírem na capital. O centro de Salvador será cortado por até 140.000 veículos/dia (como os da Rio/Niterói) com destino ao Litoral Norte e ao Nordeste, No mar a ponte será uma brida (bridge) de mão única, na boca da BTS com 430 pilares e milhares de estacas limitando a passagem de grandes navios, e plataformas (h=90m) e uma barreira visual cortando a visão da ilha, BTS e Salvador ao meio. Um crime ambiental, financeiro (R$1,2 bi/ano) e cultural que os responsáveis pagarão caro!
Teria outra solução? Sim, um anel ferroviário envolvendo a BTS funcionando como metrô durante o dia e ferrovia de carga à noite chegando a Itaparica pela contra costa e articulado ao restante do país e ao Pacífico pela FIOL e um sistema de barcas, como na Baia da Guanabara, aliviando o tráfego na BR-324. Em Salinas da Margarida poderíamos ter um hub porto com 22 m de calado.
Este anel de integração do Recôncavo daria acesso às suas cidades históricas, praias, pequenas ilhas e resortes-marinas. Articularia também os portos e centros industriais de Salvador, Aratu, Temadre, Estação de Regaseificação e Estaleiro do Paraguaçu. Que benefícios trará a ponte, senão a marginalização da BTS e do Recôncavo e o atropelo da ilha e de Salvador por 140.000 veículos/dia?