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Os sutis detalhes do contrato da ponte
O Prof. Heliodório Sampaio, da FA-UFBA, diz que na Bahia as autoridades tomam as decisões com critérios políticos e depois contratam empresas para justificar as escolhas. A bilionária ponte SSA-Itaparica não foge à regra. Os protocolos de impactos ambientais não foram totalmente cumpridos, os PDDUs de Itaparica, Vera Cruz e Salvador ignoram a ponte. Recentemente o prefeito de Salvador afirmou que ainda não havia recebido o pedido de licenciamento da ponte. Os impactos sobre a capital, além da ilha, serão enormes e não foram discutidos. Onde será o canteiro de obras de SSA para pré-fabricação de vigas de até 70 m. Na feira de São Joaquim, ou cruzando ela? Quantos serão os viadutos e túneis? Que condições terão a Via Expressa e a Paralela com 140.000 veículos/dias, em futuro próximo?
Segundo o G1, o então chefe da Casa Civil, que confessou candidamente que a compra de respiradores não entregues foi irregular, mas ele não levou vantagem, sabia que o Estado deveria pagar R$1,2 bilhão/ano aos chinas, para complementar o amealhado no pedágio e a rentabilidade máxima da ponte. Mas ao invés de parar ou negociar, mandou prosseguir o contrato.
A ponte irá marginalizar, ainda mais, o Recôncavo com suas cidades históricas, portos e centros industriais, bem como o oeste da BTS, que será sugado pelo campo gravitacional de Salvador. Não servirá também ao Oeste, pois o porto de Salvador não opera com granéis e o caminhão não vai competir com o trem da Fiol. A hidrovia metropolitana, que poderia aliviar a BR 324, será esvaziada. Ela será apenas a substituta de um ferry boat domingueiro mal administrado.
Como somos sempre os últimos a saber, os portugueses acabam de divulgar um vídeo mostrando como será construída a ponte, indicando que estão associados aos chineses para administrar os nossos peões, como fazem em suas ex-colônias na África (https://youtu.be/N-x3ClHxssQ). Por este contrato leonino, todos os riscos serão assumidos pelo Estado, como o aumento de materiais, que já dobraram de preço, mão de obra, eventuais paralisações e baixa arrecadação do pedágio. Com a inflação e desvalorização galopante do real a ponte será cada vez mais barata para os chinas e mais cara para o Estado.
Neste cenário de insegurança, os chineses, que declaram que o projeto ainda não está concluído, considerando ainda a caducidade das desapropriações, não irão iniciar as obras sem a garantia de que o futuro governo irá bancá-las. Isto dá a sociedade baiana e ao Ministério Público um ano para cobrar do governo a análise de alternativas, elaboração de estudos mais sérios e medidas compensatórias aos enormes impactos desta obra sobre o meio ambiente da segunda maior baía do mundo, sua paisagem e navegação, circulação veicular na RMS e ônus sobre as populações mais pobres, que serão deslocadas de suas moradias e frentes de trabalho.