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Belov, não basta navegar
No último dia cinco, Aleixo Belov, com 79 anos, zarpou do II Distrito Naval em direção ao Ártico cruzando o Panamá para passar do Pacífico para o Atlântico através de uma janela no verão do Hemisfério Norte. Belov é um fenômeno em todos os sentidos. Chegou à Bahia em 1949 com seis anos com seus pais, refugiados políticos da Ucrânia, sem um centavo. Apaixonou-se pelo mar ainda menino, quando ganhou uns óculos de mergulho e conseguiu se formar em engenharia na UFBA.
Preparou-se metodicamente para ser um navegador. Fez sua primeira viagem oceânica, em 1969, para o Caribe, na escuna Santa Cruz adaptada de Lev Smarcevscki. Era o único com conhecimento de navegação a bordo, o que evitou um acidente. Fez uma segunda viagem, em 1973, para a Cidade do Cabo no veleiro Concorde com um guerrilheiro francês que saiu do Vietnã e lutou na África sendo preso e extraditado algumas vezes, perfil que só soube na viagem, o que lhe tirou o sono.
Depois dessas duas aventuras, resolveu construir no quintal da casa o veleiro Três Marias, de fibra de vidro, e fez em 1980 sua primeira volta ao mundo solitária, que repetiu mais duas vezes, enfrentando os perigos dos abalroamentos, da doença e da pirataria. Fundou em 1981 a Belov Engenharia Ltda, especializada em obras submarinas, e passou a ensinar Portos na Politécnica. Seu sonho, porém, era criar um veleiro-escola para formar navegadores, o que conseguiu em 2010 com o Fraternidade, de casco de aço, 21,5 m de comprimento e três mastros. Barco construído com a experiência de amigos navegadores internacionais. Com ele fez até 2015 mais duas voltas ao mundo, uma expedição à Antártica. Acaba de partir para sua 6ª volta ao mundo.
Belov conseguiu conciliar viagens de um ano de duração com a gestão de uma empresa com 1200 empregados e 300 mergulhadores. Ele não é apenas um grande empresário, técnico altamente qualificado, o navegador brasileiro de maior milhagem e um educador, mas também um documentarista, escritor de seis livros de viagem e colecionador de obras de arte, conchas e pedras de todos os lugares por que passou.
Todo esse rico acervo e o próprio Três Marias estão à disposição dos turistas desde dezembro de 2021, no Museu do Mar Aleixo Belov, em Santo Antônio Além do Carmo. Uma iniciativa de seus amigos do Grupo Kirimurê, Lourenço Mueller, Mauricio Almeida e Wolf Reiber. O Museu, com todos os recursos digitais, é uma verdadeira aula de navegação, com cartas náuticas, trajetórias das viagens, demonstrações dos instrumentos de navegação e entrevistas com amigos, projeto da museóloga Eloisa Helena Costa.
Estranhei a falta de apoio e prestigiação das autoridades locais, salvo as da Marinha, apesar do museu está incentivando mais o turismo no Centro Histórico que os hotéis Vips (seletivos) que receberam tantos benefícios.