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A bola da vez: a Rodoviária e o Detran

  • 18 de Março de 2023

Não é a primeira vez que se muda a rodoviária em Salvador. A engorda de terrenos é a forma mais comum de especulação imobiliária praticada pelo estado, não só com a venda da Rodoviária e do Detran, como das enormes glebas do Centro de Convenções desativado e do Parque de Exposições, que se vai mandar para o interior para vender.

A área que a ALBA autorizou vender é de 365.000 m², mas se considerarmos o sistema viário desses dois equipamentos pode-se chegar ao dobro, ou cerca de 100 campos de futebol no coração da cidade. Curiosamente nem o estado nem a prefeitura sabem que destino dar à área, preferem delegar à iniciativa privada. Como urbanista posso prever que a verticalização daquela área vai transformar o centro da cidade em um nó cego intransponível. Para ali convergem os dois únicos acessos rodoviários da cidade, a BR 324 e a Estrada do Coco e mais o terminal do novo BRT tobogã, sem nenhuma praça ou rotatória.

A nova rodoviária de Águas Claras fica a 17 km do centro da cidade. A comodidade do cidadão é o que menos importa, apesar do bem estar da comunidade ser a principal atribuição do governo. O novo Detran onde o cidadão tira seu carro apreendido,  ninguém sabe onde ficará.

No mundo inteiro terminais de trens e ónibus ficam no centro da cidade. Mesmo as principais capitais brasileiras mantêm rodoviárias centrais, como São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio. A cidade de São Paulo tem três terminais: Rodoviária Tietê, Barra Funda e o Terminal Intermunicipal de Jabaquara.

O mesmo acontece com os aeroportos. A construção do Galeão não desativou o Santos Dumont, o de Guarulhos também não paralisou Congonhas, no centro de São Paulo, nem o de Confins em Belo Horizonte aposentou o da Pampulha. O mesmo se dá em nível internacional. Paris tem o Orly central e Charles de Gaulle Internacional.  Nova York tem o La Guardia para voos estaduais e os John Kennedy e Newark para voos internacionais.

Não se faz um parque em Salvador há meio século, só viadutos, para contemplar as construtoras. Populosos bairros pobres como a Estrada da Liberdade e Cajazeiras não tem sequer uma praça. Os generosos canteiros da Paralela e das avenidas ACM e Juraci Junior, com árvores frondosas, foram desflorestados para implantação de uma barreira ferroviária e um BRT ultrapassado.

Em Salvador, razoável seria manter a Rodoviária da Av. ACM para ônibus da região metropolitana, servindo à população mais ligada à Salvador, e a de Águas Claras para ônibus do interior e de outros estados. Isto evitaria que pacientes fazendo hemodiálise e outros procedimentos médicos frequentes tivessem que pegar três modais para chegar a seu hospital: ônibus rodoviário, metrô que não passa em nenhum hospital, e táxi.

Santa Rita das causas impossíveis rogai por nós órfãos do poder público!

 


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