Artigos de Jornal
A conspiração do silencio
A mordaça imposta a uma comunidade é a pista para a descoberta da
expropriação das terras e extermínio de uma família japonesa no interior dos EE.
UU. durante a II Guerra. Este é o enredo de um velho western estrelado pelo
notável ator Spencer Tracy. Moral da historia, o silencio conspira. Guardadas as
devidas proporções, vivemos um clima semelhante em Salvador. Há alguns meses
algumas centenas de famílias da Calçada e Boa Viagem tiveram suas casas e lojas
declaradas de utilidade pública para efeito de desapropriação, sendo impedidas
de vender ou alugá-las, sem nenhuma explicação. Uma maquete digital foi
divulgada na internet, mas a Prefeitura negou a autoria e afirmou está ainda
estudando o que vai fazer no local.
Há suspeitas que ha grupos interessados no grande potencial imobiliário do filé
da península e querem se apropriar do mesmo através do falsete da Concessão
Urbanística, pela qual o poder público desapropria uma área e entrega a um grupo
privado. O processo é verdadeiramente kaficaniano. Famílias são privadas de suas
casas e trabalho, sem saber o porquê.
Um outro projeto de grande impacto em Salvador, Região Metropolitana, RMS, e
meio ambiente foi negado durante meses pelo Governo do Estado, até que a
empreiteira interessada impaciente em iniciar a obra bilionária de ligação
Salvador/Itaparica abriu fogo amigo divulgando memorial e perspectiva em seu
site e no jornal Bahia Negócios (12/08/09). Na nota dizia que desde janeiro de
2009 havia entregue ao Governador documento pedindo autorização formal para
realizar o projeto. Cinco meses depois, um secretario de governo anunciou que
iria publicar edital de Manifestação de Interesse da ponte, mas negou qualquer
conversa com a empreiteira. Ato continuo, outro secretário entregou aos
jornalistas o ”anteprojeto da ponte”, o mesmo publicado pela empreiteira (A
Tarde, 8/1/10).
Não vamos discutir aqui o mérito de projeto tão complexo, senão a forma como o
processo é conduzido. É lamentável que o Governo do Estado que está fazendo um
bom trabalho no varejo assistencial, cultural e de recuperação de estradas no
interior, pareça inteiramente perdido no que se refere às questões macro do
Estado, da RMS e da Capital.
A lei do silencio não é nova em Salvador. Na calada da noite foi aprovado o PDDU,
colocado pernas de pau no cambaleante metrô, perdoada a divida e ampliada a área
do falido shopping Aeroclube, instalados cervejódromos nas areias da Orla,
aterradas as lagoas do Vale Encantado e sepultado o canal do Imbuí, sob protesto
dos ambientalista e urbanistas. O Serviço de Patrimônio da União, o IBAMA e o
Ministério Público já deram suas respostas e o canal do Imbuí vomitou em
protesto durante as ultimas chuvas.
Sob o mesmo manto de segredo o Prefeito anuncia para o próximo dia 28 a
divulgação de duas novas avenidas: a paralela da Paralela (sic) atropelando a
represa de Pituaçu e a paralela da BR-324 (A Tarde,13/01). Onde foram feitos
esses projetos e sob encomenda de quem? Nem mesmos os técnicos da Prefeitura têm
conhecimento. Logicamente, todos nós queremos o desenvolvimento da cidade, mas
esses projetos precisam ser discutidos com a sociedade, avaliados em seus
impactos ambientais e sociais e compatibilizados com os demais. O Conselho da
Cidade, criado no inicio de 2008 por exigência do Estatuto da Cidade, instancia
de dialogo entre o poder municipal e a sociedade, nunca foi instalado pelo
Prefeito.
Fala-se ainda num projeto sintomaticamente chamado de skyline de Salvador, que
estaria sendo elaborados para a orla da Bahia de Todos os Santos e do Atlântico
financiado por um dos maiores grupos imobiliários de Salvador, além de um novo
PDDU, para atender aos novos compromissos, todos desenvolvidos em silencio e
segredo.
Para quem não acredita no desmonte do estado, leia A Tarde do último dia 13 onde
o Secretario de Infraestrutura diz que precisa de autorização da TWB,
exploradora do ferry boat acusada de irregularidades, para divulgar o conteúdo
do contrato, porque embora o contrato seja publico foi firmado com um empresa
privada.
SSA: A Tarde, 17/01/10