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A conspiração do silencio

  • 17 de Janeiro de 2010

A mordaça imposta a uma comunidade é a pista para a descoberta da expropriação das terras e extermínio de uma família japonesa no interior dos EE. UU. durante a II Guerra. Este é o enredo de um velho western estrelado pelo notável ator Spencer Tracy. Moral da historia, o silencio conspira. Guardadas as devidas proporções, vivemos um clima semelhante em Salvador. Há alguns meses algumas centenas de famílias da Calçada e Boa Viagem tiveram suas casas e lojas declaradas de utilidade pública para efeito de desapropriação, sendo impedidas de vender ou alugá-las, sem nenhuma explicação. Uma maquete digital foi divulgada na internet, mas a Prefeitura negou a autoria e afirmou está ainda estudando o que vai fazer no local.

Há suspeitas que ha grupos interessados no grande potencial imobiliário do filé da península e querem se apropriar do mesmo através do falsete da Concessão Urbanística, pela qual o poder público desapropria uma área e entrega a um grupo privado. O processo é verdadeiramente kaficaniano. Famílias são privadas de suas casas e trabalho, sem saber o porquê.

Um outro projeto de grande impacto em Salvador, Região Metropolitana, RMS, e meio ambiente foi negado durante meses pelo Governo do Estado, até que a empreiteira interessada impaciente em iniciar a obra bilionária de ligação Salvador/Itaparica abriu fogo amigo divulgando memorial e perspectiva em seu site e no jornal Bahia Negócios (12/08/09). Na nota dizia que desde janeiro de 2009 havia entregue ao Governador documento pedindo autorização formal para realizar o projeto. Cinco meses depois, um secretario de governo anunciou que iria publicar edital de Manifestação de Interesse da ponte, mas negou qualquer conversa com a empreiteira. Ato continuo, outro secretário entregou aos jornalistas o ”anteprojeto da ponte”, o mesmo publicado pela empreiteira (A Tarde, 8/1/10).

Não vamos discutir aqui o mérito de projeto tão complexo, senão a forma como o processo é conduzido. É lamentável que o Governo do Estado que está fazendo um bom trabalho no varejo assistencial, cultural e de recuperação de estradas no interior, pareça inteiramente perdido no que se refere às questões macro do Estado, da RMS e da Capital.

A lei do silencio não é nova em Salvador. Na calada da noite foi aprovado o PDDU, colocado pernas de pau no cambaleante metrô, perdoada a divida e ampliada a área do falido shopping Aeroclube, instalados cervejódromos nas areias da Orla, aterradas as lagoas do Vale Encantado e sepultado o canal do Imbuí, sob protesto dos ambientalista e urbanistas. O Serviço de Patrimônio da União, o IBAMA e o Ministério Público já deram suas respostas e o canal do Imbuí vomitou em protesto durante as ultimas chuvas.

Sob o mesmo manto de segredo o Prefeito anuncia para o próximo dia 28 a divulgação de duas novas avenidas: a paralela da Paralela (sic) atropelando a represa de Pituaçu e a paralela da BR-324 (A Tarde,13/01). Onde foram feitos esses projetos e sob encomenda de quem? Nem mesmos os técnicos da Prefeitura têm conhecimento. Logicamente, todos nós queremos o desenvolvimento da cidade, mas esses projetos precisam ser discutidos com a sociedade, avaliados em seus impactos ambientais e sociais e compatibilizados com os demais. O Conselho da Cidade, criado no inicio de 2008 por exigência do Estatuto da Cidade, instancia de dialogo entre o poder municipal e a sociedade, nunca foi instalado pelo Prefeito.

Fala-se ainda num projeto sintomaticamente chamado de skyline de Salvador, que estaria sendo elaborados para a orla da Bahia de Todos os Santos e do Atlântico financiado por um dos maiores grupos imobiliários de Salvador, além de um novo PDDU, para atender aos novos compromissos, todos desenvolvidos em silencio e segredo.

Para quem não acredita no desmonte do estado, leia A Tarde do último dia 13 onde o Secretario de Infraestrutura diz que precisa de autorização da TWB, exploradora do ferry boat acusada de irregularidades, para divulgar o conteúdo do contrato, porque embora o contrato seja publico foi firmado com um empresa privada.

SSA: A Tarde, 17/01/10


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