Artigos de Jornal
Envolvente da Baia versus ponte
Disse em meu ultimo artigo que existiam alternativas mais interessantes e
baratas que a Ponte Salvador-Itaparica. Ao contrario do que se diz, aquela ponte
não revitalizará o Recôncavo. Concebida como uma saída direta para o sul e
oeste, ela o marginalizará. A alternativa aqui apresentada visa criar uma opção
de acesso à ilha, desenvolvendo o Recôncavo e evitar impactos sobre Salvador.
Ela seria uma via envolvente da Baia de Todos os Santos, que partindo do COPEC,
iria até o CIA e o complexo portuário/naval de Aratu, dali seguindo pela orla da
baia ligando este complexo à RELAN, à Usina de Biodiesel, ao Temadre e cruzando
o Paraguaçu ao Estaleiro de S. Roque. Da ponte a via seguiria para Salinas da
Margarida, das mariculturas, e dali até a ponta do Dendê, aonde através da Ponte
do Canal chegaria a contra-costa de Itaparica. Outro ramo seguiria até o Funil.
Uma ponte em S. Roque com outras ligações e função já foi cogitada por outrem.
Além da integração de complexos industriais-portuários, esta envolvente seria
também uma via de lazer dando vida a pontos turísticos, como a baia de Aratu,
Museu Freguesia, S. Francisco do Conde, e praias de Itapema, Saubara, Cabuçu.
Bom Jesus, Monte Cristo, Barra do Paraguaçu, Salinas da Margarida, Encarnação,
Mutá e Cações. A partir dessa estrada se pode chegar, de barco, às ilhas de
Maré, dos Frades, Cajaiba, Bom Jesus, Bimbarra, das Fontes, Monte Cristo e aos
piscosos espelhos d’água do Iguape e Canal de Itaparica. Por meio de estradas
vicinais se pode visitar cidades como Madre de Deus, S. Amaro, Maragogipe, S.
Felix e Cachoeira, as vilas de Nagé e Coqueiros, as ruínas de S. Francisco do
Paraguaçu e Santiago do Iguape. Este é um enorme potencial turístico e cultural
inexplorado, que será mais uma vez esquecido e abandonado com a via - expressa
Salvador - BR-101.
Através da armação de barcos, da pesca, do artesanato, da horti-fruticultura e
da culinária, revitalizados pelo turismo, estaríamos desenvolvendo o Recôncavo.
Em contraposição, a ponte Salvador–Itaparica e os 66 km de via expressa
anunciados não têm em sua margem nenhuma atividade produtiva, de serviços ou
cultural.
A estrada proposta está em grande parte feita, dependendo apenas de conexões e
benfeitorias. As obras-d’arte são poucas. Uma ponte sobre o Subaé (650 m), outra
na foz do Paraguaçu (1.800 m) e a Ponte do Canal (3.900 m) entre a Ponta do
Dendê e a contra-costa de Itaparica. Esta ponte, que tem menos de um terço do
comprimento da Salvador-Itaparica não mergulhará 42 m, não terá vãos de 560 e
285 m e altura de 90 m. Será como a atual do Funil, mas menor que sua sucessora
duplicada (5.300 m).
Hoje para se chegar à Fonte da Bica de carro rodamos 290 km e gastamos 3:15hs.
Com a novo traçado ficará reduzida para 110 Km e 1:15hs, a mesma distancia e
tempo para ir a Sauipe, em uma estrada muito mais interessante. Se considerarmos
que os ferryboats saem a cada 50 minutos e levam 40 minutos na travessia, o
tempo é 17% menor, fora a espera na fila.
Esta nova via não se destina a expandir a RMS, onde estão as indústrias e muita
terra firme por ocupar, nem escoar a soja do oeste, ou desativar o ferryboat.
Destina-se a integrar indústrias e portos metropolitanos, desenvolver o
Recôncavo e o turismo, evitar uma avalanche de carros em Salvador e viabilizar o
sistema de ferryboats e lanchas regulando a flutuação da demanda responsável por
uma frota sucateada, que não atende ao pique do verão e opera deficitária e
ociosa o restante do ano. O ferry poderá ser o fecho de um belo circuito em
volta da baia.
A Ponte Rio-Niterói não tirou as barcas da Praça XV, pois seus usuários
descobriram que era mais prático chegar ao centro do Rio ou de Niterói de barca,
que pagar pedágio, enfrentar um engarrafamento de pelo menos1:30 hs e não ter
onde estacionar. Alternativas existem. Cabe ao Governo, ouvida a sociedade,
escolher aquela que melhor atenda aos interesses, não só dos usuários do mal
gerido ferryboat, como das populações de Salvador e do Recôncavo, que serão
beneficiadas ou afetadas com essas obras.
SSA: A Tarde, 09/03/2010