Artigos de Jornal
Universidades privadas: desnacionalização em curso
Não obstante a nossa primeira universidade, a USP, ter pouco mais de 70 anos
fizemos um grande progresso na formação de pessoal e produção cientifica e
cultural nesse período. Em 1965, as universidades públicas eram responsáveis por
65% da formação universitária. Os restantes 35% eram supridos por universidades
e faculdades privadas, na sua maioria confessionais.
Sem investimentos nas públicas, as privadas já eram, em 2004, responsáveis por
75% dessa formação e as públicas por apenas 25%. O ensino superior havia virado
um negocio. Não obstante este quadro, as universidades públicas são responsáveis
por 90% da pesquisa e formação de mestres e doutores. A responsável por isto foi
a Lei no 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, espelho de
acordos firmados pelo Brasil com a Organização Mundial do Comercio, FMI e BIRD.
Nos últimos anos, três dos maiores centros universitários baianos foram
comprados por grupos norte americanos. O Centro Universitário Jorge Amado –
Unijorge hoje pertence à Whitney International University System, com sede em
Dallas, Texas, e possuidora de universidades em toda a America Latina, norte da
África e Oriente Médio. As Faculdades Ruy Barbosa foram vendidas para o grupo
Fanor, que tem como sócio principal DeVry, grupo com atuação em trinta países.
Por ultimo, a Unifacs foi vendida para a Laureate International Universities que
já controla oito outras universidades brasileiras e mais 50 em outros países.
Estes centros foram criados com isenções fiscais e financiamentos públicos, com
professores-doutores formados nas universidades públicas, e bolsas para
pesquisadores e estudantes. São patrimônios educacionais e culturais que estão
sendo negociados no exterior e desnacionalizados, sem que nos demos conta.
Os processos de dominação se iniciam incutindo valores, comportamentos e
simbologias. Não foi por outra razão que a conquista da America se fez mediante
a catequese, na rede de colégios e aldeias jesuíticas, sob o pretexto da
evangelização. Vamos convir que a ofensiva atual não é apenas comercial, ela tem
história. Logo após 64, os EE. UU fizeram a primeira tentativa de intervenção na
universidade brasileira com o convenio MEC/USAID visando privatizá-la, fechar a
UNE e criar lideranças alinhadas com seus objetivos geopolíticos e ideológicos.
Com a globalização assimétrica, o ensino superior no país passou a ser tratado
pelo Acordo Geral sobre Comercio de Serviços, GATS, no âmbito do OMC, como uma
atividade puramente econômica, aberta ao capital estrangeiro. Mas a soberania da
nação exige que para publicar um jornal ou TV, a empresa deve ter pelo menos 70%
de capital nacional. O CADE limita os abusos do poder econômico impedindo fusões
de empresas que resultem em oligopólios. É lamentável que numa área tão sensível
como a criação de uma consciência nacional e formação de lideranças políticas e
empresariais não haja nenhuma restrição ao controle estrangeiro.
SSA:A Tarde, 12/07/100