Artigos de Jornal
Yes, nos temos bananas ...
Quando a Chrysler comprou a fábrica Sinca, na década de 1960, De Gaule baixou
decreto para que o fato não se repetisse. Recentemente Obama injetou fortunas na
moribunda indústria automobilística e imobiliária ianque para que o setor não
fosse dominado completamente pelos orientais. Do mesmo modo, protege e subsidia
a indústria siderúrgica, de petróleo e etanol e a agricultura, embora faça o
discurso contrario.
Com o neoliberalismo nossos governantes deixaram que vários setores econômicos
fossem desnacionalizados, como a construção naval, a mecânica pesada (máquinas
ferramentas, blindados, elevadores etc), automotivo e de auto-peças. O mesmo se
passou nos serviços, com as redes de telefonia, energia e supermercados que
passaram para espanhóis, americanos e franceses. Por ultimo, a ofensiva vem
sendo feita na produção de grãos, carne e etanol para suprir o primeiro mundo,
vide novo Código Florestal. Mas a coisa não fica só nisso.
Qualquer processo de dominação só se conclui incutindo valores, comportamentos e
simbologias. Como incutir nos nossos índios à noção de propriedade privada, de
norma, autoridade, culpa e pecado? Não foi por outra razão que a conquista da
America Latina se fez mediante a catequese, sob o pretexto da evangelização,
embora não se levasse o evangelho aos seis milhões de escravos africanos,
igualmente pagãos e iletrados, mas já dominados. Por outro lado, para que não se
difundissem idéias libertárias não tivemos universidades durante todo o período
colonial, monárquico e a Primeira Republica. Não obstante a nossa primeira
universidade, a USP, ter apenas 70 anos, fizemos um grande progresso na formação
de pessoal e produção cientifica e cultural.
Em 1965, as universidades públicas eram responsáveis por 65% da formação
universitária. Sem investimentos públicos, em 2004, as privadas já eram
responsáveis por 75% dessa formação e as públicas por apenas 25%. O ensino
superior havia virado um negocio. Não obstante este desequilíbrio, as
universidades públicas são responsáveis por 90% da pesquisa e formação de
mestres e doutores. A responsável por isto foi a Lei no 9.394 de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, de 1996, que espelha acordos firmados pelo país com
a Organização Mundial do Comercio, Fundo Monetário Internacional e Banco
Mundial.
Pois bem, três dos maiores universidades baianas foram compradas, recentemente,
por grupos norte-americanos. A UNIJORGE pertence à Whitney International
University System, dona de universidades nos EE. UU., na America Latina, norte
da África e Oriente Médio. As faculdades Ruy Barbosa e Área 1 foram vendidas
para a Fanor, controlada pela DeVry, grupo educacional com atuação em trinta
países. Por ultimo, a UNIFACS foi vendida para a Laureate International
Universities que já controla oito outras universidades brasileiras e mais 50 em
outros países.
Isto está acontecendo em todo o país. Essas universidades foram criadas com
financiamentos públicos, com professores-doutores formados em universidades
públicas com bolsas brasileiras. Elas são patrimônios educacionais que estão
sendo vendidos no exterior e desnacionalizados. Vamos convir que a ofensiva
atual não é apenas comercial, ela tem história. Logo após 64, os EE. UU fizeram
a primeira tentativa de intervenção na universidade brasileira com o convenio
MEC/USAID visando privatizá-la, silenciar os estudantes e criar lideranças
alinhadas com seus objetivos geopolíticos e ideológicos.
Com a globalização, o ensino superior passou a ser tratado pelo Acordo Geral
sobre Comercio de Serviços, GATS, no âmbito do OMC, como uma atividade aberta ao
capital estrangeiro. Curiosamente, a legislação brasileira exige que o
proprietário de uma empresa de aviação, de um jornal ou TV, seja brasileiro nato
e a empresa tenha 70% de capital nacional. É lamentável que numa área tão
sensível, como a criação de uma consciência nacional, desenvolvimento e formação
de lideranças políticas e empresariais, não haja nenhuma restrição ao domínio
estrangeiro. Estamos voltando a ser um “país essencialmente agrícola”.
SSA: A Tarde, 18/07/10