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Avanços na cultura
A par das conquistas econômicas e sociais, o Governo Lula pode se orgulhar de
ter feito avanços na área da cultura. Não que tenha promovido uma nova Semana de
22 ou Tropicalismo, senão que estruturou o estado para apoiar as manifestações
culturais da sociedade de forma mais eficiente, federativa e democrática. Basta
citar a criação do Conselho Nacional de Política Cultural; o Plano Nacional de
Cultura, primeiro depois da redemocratização; o Sistema Nacional de Cultura,
rede de coordenação das ações da União, estados, municípios e sociedade e a
estruturação do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. E isto se deve a dois
ministros baianos, Gilberto Gil e Juca Ferreira.
Os efeitos dessas ações só virão em médio prazo, pois sua elaboração foi
demorada por meio de audiências em estados e municípios e conferências nacionais
como convém a uma politica de estado de longa duração. Havia uma grande
concentração de recursos para a cultura na região Centro-Sul e nas capitais e
carência em outras e em pequenas e médias cidades com a transferência da
politica cultural para os departamentos de marketing das grandes empresas, em
decorrência da Lei Rouanet. Esta ultima não será abolida, mas terá seu
protagonismo diminuído em beneficio de fundos geridos pela União, estados e
municípios para compensar tais distorções.
Romper esta situação provocou inevitáveis tremores, especialmente quando se tem
que tirar o pão-de-ló de alguns para distribuir pão de sal com todos. Embora
tenha havido uma incremento nos recursos da cultura seria necessário a
multiplicação dos pães para satisfazer a todos e isto não aconteceu. Os recursos
destinados à cultura pela União são de pouco mais de 1% do orçamento. Uma PEC
que tramita no Congresso deverá dobrar este percentual.
Mas esta disputa foi muito saudável para o sistema, porque mobilizou a sociedade
e criou um contraditório, coisa que não ocorre em outras áreas, como a de
infra-estrutura e obras públicas, tradicional sumidouro dos recursos públicos,
dominado pelas grandes empreiteiras que formam hoje um único oligopólio, como
ficou demonstrado na licitação para ampliação do metrô de São Paulo, onde os
lotes superfaturados haviam sido repartidos previamente entre elas, como provou
o Estado de São Paulo.
Os efeitos dessa nova forma de gestão aberta podem ser aferidos no projeto de
requalificação e ampliação do Teatro Castro Alves. Ao invés aceitar um projeto
carimbado de uma construtora, a Direção do TCA, liderada pelo arquiteto e
cenógrafo Moacir Gramacho com apoio do Secretário Márcio Meireles, seguiu uma
metodologia exemplar resgatando a idéia original de Anísio Teixeira de um
teatro-escola para formação de pessoal para a atividade teatral de todo o Estado
e definindo preliminarmente o conceito das intervenções. Contratou, em seguida,
escritórios especializados para o levantamento cadastral do prédio, a avaliação
do estado das instalações do edifício e da estrutura metálica da concha
acústica, elaboração de relatório sobre o uso dos espaços e programa da
ampliação e, finalmente, diagnostico do desempenho acústico das salas de
espetáculos e ensaio da OSBa por um dos mais conceituados escritórios
internacionais do ramo, o Kirkegaard Associates.
De posse desse material, o TCA realizou em convenio com o Instituto de
Arquitetos do Brasil concurso publico nacional de anteprojeto para a ampliação
do TCA. Pôde assim escolher entre 18 anteprojetos aquele que melhor atendia a
suas necessidades. O projeto vencedor, do Escritório América, de São Paulo,
apresenta ainda a vantagem de poder ser construído por partes sem paralisar o
teatro. Tudo isto foi feito em poucos meses, em harmonia com a classe teatral,
dentro da Lei de Licitações, e vai permitir uma enorme economia na execução e
manutenção do equipamento. Este deveria ser o ritual a ser seguido em todas as
obras públicas. Como isto não é a norma, é necessário que a sociedade civil
cobre das autoridades a discussão previa das grandes obras anunciadas, como
fazem os aguerridos grupos de artistas com relação aos editais e programas do
Ministério e da Secretaria de Cultura.
SSA: A Tarde, 26/12/10