Artigos de Jornal
Para além do concreto e do vidro
Os arquitetos brasileiros começam o ano com um novo conselho profissional, o
CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Este novo órgão uniprofissional tem a
missão de resgatar uma profissão que foi das mais penalizadas pelo regime
militar e mantida na marginalidade pelos governos que o sucederam. Desde a
Colônia com o Barroco, passando pelo Império com o Neoclássico, pela Primeira
Republica com o Ecletismo e a Era Vargas/Juscelino com o Modernismo, o estado
brasileiro sempre teve uma identidade arquitetônica e cultural.
Lidando com a utopia de construção de uma cidade mais justa, racional e bela e
tendo como principais protagonistas no século XX arquitetos como Oscar Niemeyer,
Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Lelê, homens de profundo compromisso
social e militância esquerdista, a arquitetura não podia ser bem vista pelos
militares. A Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília foi fechada e
os cursos de arquitetura de todo o Brasil expurgados com professores e alunos
presos e cassados. Mesmo profissionais de projeção
mundial tiveram que se exilar, como Oscar Niemeyer.
Com a redemocratização, expansão do setor imobiliário e o neoliberalismo, o
Estado Brasileiro abdica de exercer qualquer controle sobre as nossas cidades e
de ter qualquer identidade cultural. As obras publicas passam a ser ditadas
pelas grandes construtoras e licitadas pelo menor preço e conseqüentemente pior
qualidade arquitetônica e construtiva.
Submetidos a um conselho pluriprofissional, que reunia quase um milhão de
profissionais de nível superior e médio e trezentas categorias profissionais
tecnológicas as mais diversas, sistema Crea-Cnfea, os arquitetos como outros
profissionais não tinham como debater suas questões especificas e as políticas
publicas que afetam a sociedade no nosso campo de atuação.
SSA: A Tarde, 10/01/2012