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Aviso aos navegantes

  • 08 de Abril de 2012

Antes de ser extinta a cabotagem nos 8.000 km de costa do país e a Hora do Brasil se transformar em a Voz do Brasil, havia na primeira um quadro com o título Aviso aos Navegantes que informava, tanto aos capitães de longo curso quanto aos viajantes de primeira viagem, sobre as condições atmosféricas e do mar. Este serviço evitou muitos naufrágios e afogamentos. Não sou um meteorologista, mas desde cedo gostei de observar as nuvens e dar palpites sobre o uso do guarda-chuva.
Depois do aquecimento global as previsões ficaram mais difíceis. As estações já não são as mesmas. Tem havido precipitações tempestuosas de “altostratus” e formação de nuvens baixas, que poderiam ser classificadas de classe C. Estas nuvens ainda sob a forma de vapor penetram em tudo, bancos, shoppings centers e supermercados como gafanhotos consumindo tudo. É o fenômeno conhecido como “inversão”, em que as camadas mais baixas se elevam aprisionando a poluição e afetando os condomínios mais altos.
Nossos prefeituráveis ainda não se deram conta do fenômeno, que pode afetar a previsão do tempo nas próximas eleições. O quadro climático desta eleição não é o mesmo de há uma década. A classe C, que faz cursinhos, navega na internet e no asfalto, não quer só pão e regue, quer transporte de qualidade, trabalho, segurança e cultura. Já não se ilude com quimeras como Salvador Capital Mundial, anúncios de obras faraônicas e a salvação da cidade pela Copa do Mundo. Quer respostas claras e urgentes para os seus problemas.
Por outro lado, os partidos perderam a identidade e se baratinaram. A classe política está desacreditada depois de tantos escândalos. O velho falsete dos marqueteiros políticos de não divulgar o programa de governo para não expor o fraco candidato a um debate televisivo já não funciona. Candidato sem programa e com discurso generalista, didático e nostálgico não terá vez. O que o eleitor quer é a discussão dos seus problemas, ser ouvido e debater novas propostas.
Enfraquecidos, os partidos enfrentam um dilema e caem num circulo vicioso. O pouco que resta de compromisso social vem sendo minado pelo fisiologismo, pela corrupção e pelo aparelhamento na sua competição desesperada pela sobrevivência. Compromisso social sem competência para transformá-lo em ganhos sociais se transforma em um saco vazio. Enfrentar os complexos problemas de uma cidade como Salvador sem recursos e dominada por grandes cartéis, não pode ser tarefa exclusiva dos limitados quadros partidários e dos patrocinadores. E quando a tripulação falha o barco afunda.
A mídia também mudou. O marketing e a propaganda política gratuita viraram uma mesmice que ninguém mais escuta e acredita. A televisão cedeu lugar às mídias sociais, que permite o dialogo do cidadão com o cidadão e com o governo, sem a intermediação dos partidos. Mídias que permitiram a eleição de Obama com muitos votos republicanos e está provocando o fenômeno, ainda pouco claro, da Primavera Árabe. Todos sabem que a classe media não faz revolução, mas faz a cabeça das classes D e E e as três juntas estão fazendo uma revolução silenciosa.
Ninguém está mais disposto a dar um cheque em branco a um político que depois de eleito esquece os compromissos. Hoje o eleitor cobra do governante seu desempenho até seu ultimo dia de mandato, como estamos vendo com o movimento Desocupa Salvador. E não será diferente com o novo prefeito. Tirar Salvador do buraco em que se encontra requer que o novo prefeito mobilize todas as forças sociais da RMS e tenha prestigio para conseguir do Estado e da União os recursos financeiros e humanos que ela precisa. A questão de Salvador é fundamentalmente uma questão metropolitana e só se resolverá com um prefeito articulado.
Poucos prefeituráveis se deram conta que a eleição já está em curso, em discussões nas associações de defesa da cidade, no facebook, nos bairros, nos sindicatos e nos conselhos profissionais. Este é um duplo aprendizado, para os candidatos e para a comunidade. Chacrinha já dizia: quem não se comunica se trumbica!

SSA: A Tarde, 08/04/2012


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