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Kirimorê pede socorro

  • 20 de Maio de 2012

Durante o período colonial e século XIX a Baia de Todos os Santos e seu recôncavo foram o sustento da Província da Bahia. Por ela passava toda a produção de açúcar, fumo, farinha e pescado de suas margens e de carne seca, couro e minérios do sertão através dos portos de São Feliz, Cachoeira, Santo Amaro e Nazaré. Reunida esta produção no porto da Bahia (Salvador) ela era exportada para a Europa, África e Oriente. Por aqui passava, também, praticamente todo o comercio da metrópole com seu vasto império marítimo.

Sua importância começa a decrescer com a unificação da rede ferroviária e abertura de estradas de rodagem na década de 20 do século passado, quando nós rodo-ferroviários, como Feira de Santana e Alagoinhas, roubam daquelas cidades a função de ligar Salvador com o resto do estado e até com o Piauí e Minas Gerais. Esta alteração nos transportes somada à crise da economia açucareira poria aquelas cidades-portos, outrora florescentes, na marginalidade e seu rico patrimônio cultural na ruina. Nem a exploração e refino do petróleo de seu recôncavo e aguas, a partir dos anos 50 da centúria passada, tiraria a bela Kirimorê da letargia e da marginalidade.

Na próxima terça feira, a Associação Comercial da Bahia em boa hora realizará o seminário “Baia de Todos os Santos: investimentos, perspectivas e integração com a RMS”. Estão, de fato, previstos grandes investimentos na baia, como os estaleiros de São Roque e Mapele, dragagem ou ampliação dos portos de Salvador, Aratu e Madre de Deus, além da Estação de Regaseificação da Petrobras, em meio às águas da baia.

Um último grande investimento, a polêmica ponte Salvador-Itaparica, na boca da baia, ainda está incerta. Além de enormes impactos ambientais, urbanos e na navegação marítima, o esquema de venda de Cepacs para captação dos sete bilhões de reais necessários a sua construção é aparentemente inviável. Sujeita a paralizações por horas para a passagem de plataformas de petróleo, está ponte que complica a navegação e a transito rodoviário poderá trazer benefícios ao sul do Estado, mas sujeitará o Recôncavo a um maior isolamento e Feira de Santana a perder parte de seu movimento comercial.

Os demais investimentos são empreendimentos de alta concentração de capital e tecnologia só acessíveis a grandes empresas estatais ou privadas. Tais investimentos poderão repetir o ciclo da exploração e refino de petróleo e da petroquímica na Bahia, que não trouxe nenhum benefício ao Recôncavo tradicional.

Mas há outro potencial econômico inexplorado e de maior beneficio socioeconômico, o do turismo náutico e histórico na Baia de Todos os Santos e Recôncavo, que não está sendo considerado pelas autoridades. Para que isto de realize, basta interligar as rodovias asfaltadas que já existem no fundo da baia, ligar São Francisco do Conde a Aratu por uma via costeira e construir pontes sobre a foz do Paraguaçu e ligando Salinas das Margaria à Ilha de Itaparica.

Assim estaríamos dando nova vida a cidades históricas de S. Francisco do Conde, Santo Amaro, Cachoeira e S. Felix, incentivando o empreendedorismo no campo do turismo e esportes náuticos, da pesca, da maricultura, de resorts e marinas e a criação de pequenos estaleiros de barcos e lanchas. Resolveríamos também o problema do sistema de ferry boats, que só não funciona na Bahia.

Paralela à via turística deverá ser criada, em uma segunda etapa, uma ligação rodo-ferroviária situada mais para o interior para evitar impactos ambientais articulando os portos e centros industriais que existem nas margens da baia, como o COPEC, o CIA, o porto de Aratu, a RELAN, o Temadre, a Estação de Regaseificação e os estaleiros de São Roque e Mapele ligando-os às BRs 101 e 116 e à Ferrovia Oeste-Leste. Projeto que teria a mesma função do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro de integração de portos e indústrias e proteção da cidade do transito de veículos pesados.

Espero que este seminário contribua para a efetiva requalificação da Baia de Todos os Santos e do Recôncavo. Kirimorê não pode morrer, nem ser amordaçada.


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