Artigos de Jornal
O que custa mais: buracos ou túneis?
Quando ainda não existia a Embasa, toda vez que o Serviço de Água e Esgoto
fazia uma ligação recorria a um velho funcionário para saber por onde passava o
cano. Mais tarde decidiu-se “racionalizar” o sistema colocando os dutos sob os
passeios penalizando os pedestres. Nessa época a rede de esgoto se limitava a
área central implantada por Theodoro Sampaio. Quando a Embasa começou a colocar
esgoto quebrou toda a cidade.
Pouco depois, a Telebahia fez o mesmo para instalação da rede de telefonia. Com
a chegada dos celulares foi necessário ligar as subestações e torres com cabos
de fibra óptica e mais uma vez a cidade teve que ser esburacada. Recentemente
foi a vez da televisão a cabo. Omiti a rede de águas pluviais porque esta foi
abandonada, com a água correndo pelo leito das ruas alagando as avenidas de vale
e acabando com o asfalto.
Tem razão o prefeito quando reclama da Embasa, no que foi secundado por Lídice
da Mata recordando seu tempo de alcaide. O prefeito Rudolph Giuliani não
permitiu, no final dos anos 90, que se quebrassem as calçadas de Nova York para
a entrada de rede de dados. Em resposta, as empresas desenvolveram um engenhoso
sistema de fibra-óptica que corre dentro de galerias e tubos de esgoto chegando
até cada edifício. Lamento dizer, mas as nossas ruas vão continuar a ser
esburacadas pelas empresas de água e esgoto, telefonia e TV a cabo, publicas e
privadas e nenhuma lei vai mudar este quadro.
Quando da remodelação da Av. Vasco da Gama lembrei neste jornal que aquela seria
a oportunidade para se criar uma galeria subterrânea de serviços. Isto
eliminaria valas, buracos, perda de água, roubos de cabos aéreos e baratearia a
manutenção dessas redes, Em algumas avenidas de Barcelona existem buzones onde
se deposita o lixo que é sugado e transportado à vácuo por galerias. A
prefeitura financia esses túneis cobrando pedágio das concessionárias de
serviços. A requalificação do Porto da Barra e da Baixa dos Sapateiros são
outras oportunidades perdidas.
Existem hoje tecnologias não destrutivas mais avançadas e baratas. Elas
consistem em sondas de até 40 cm de diâmetro acionadas por ar comprimido que são
capazes de avançar até 50 m pelo subsolo e revestir este túnel com segmentos de
tubo de ferro soldados entre si. Por ele são enfiados cabos elétricos, redes de
fibra óptica e tubos de água flexíveis que podem ser retirados, reparados ou
substituídos sem precisar quebrar a rua ou o passeio. Diâmetros de até 60 podem
ser abertos por rotativas como aquelas usadas para resgatar em poucas semanas 33
mineiros a 700 m de profundidade no Chile. Por estes tuneis podem passar
inclusive dutos de esgoto e águas pluviais. Redes de gás podem ser incluídas
desde que esses dutos tenham ventilação forçada e chaminés de escape. A cada
esquina e meio de quadra são criadas caixas de passagem de onde partem ramais de
diâmetros inferiores sob os passeios até chegarem a pares de domicílios.
Precisamos criar um planejamento público, aberto e competente que encare a
cidade em toda sua complexidade e interatividade e nos liberte da dependência
das empreiteiras e concessionárias de serviços que só vêm o problema setorial e
tentam resolvê-lo com meias solas.
SSA: A Tarde, 03/08/14