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A Reforma Política que precisamos
As manifestações de junho de 2013, a crise econômica, os escândalos de
corrupção e disputas na base política do governo evidenciam uma profunda crise
de governabilidade. A reforma política foi um dos temas da campanha sucessória.
Mas as bandeiras empunhadas pela situação de financiamento público das campanhas
eleitorais ou da oposição de ampliação dos mandatos e revogação da reeleição, ou
mesmo bandeiras esquecidas como o voto distrital, não vão resolver nada se não
for mudado o regime político.
Desde a redemocratização todas as administrações estiveram envolvidas em
suspeitas de suborno, lavagem de dinheiro e superfaturamento de obras. Sarney
com a Ferrovia Norte/Sul, Collor de Mello com supostos restos de campanha, FHC
com a aprovação da reeleição e os governos do PT com o mensalão e os escândalos
da Petrobrás e das empreiteiras. Governos estaduais, como os de Minas, DF, Rio
de Janeiro e São Paulo, estiveram também envolvidos em escândalos.
Por que isto ocorre? Porque temos uma constituição parlamentarista onde tudo
deve passar pelo congresso, mas não temos um primeiro-ministro eleito por ele
com quem dividiria a responsabilidade do governo, senão um executivo eleito por
outra via, que para governar tem que aliciar até mesmo sua base política na base
da Lei de Gerson. A corrupção está ligada à ingovernabilidade do regime vigente.
O parlamentarismo de Ulisses e Tancredo, mas vetado por Sarney, que restaurou o
presidencialismo monocrático esquecendo de alterar a constituição, poderia ser a
solução para esta mazela, mas é pouco viável no quadro político atual. De
qualquer modo, parlamentarismo e presidencialismo que têm suas origens na
Inglaterra e EE. UU. são regimes de governo do século XVIII que já não atendem
às exigência das relações de poder contemporâneas.
O regime que melhor se adaptaria ao Brasil, ao meu ver, seria o adotado pela
constituição da 5ª República Francesa, em 1958, e por Portugal em 1976 e
denominado pelo francês Maurice Duverger, em 1978, como semi-presidencialismo.
Este é o regime adotado pela França, Portugal, Rússia, Ucrânia, Tunísia,
Roménia, Taiwan e muitos outros países. Ele é um regime dualista constituído por
um presidente eleito pelo voto direto do povo com atribuições da constituição e
um primeiro- ministro eleito pelo congresso que lhe respalda as implementações.
Quando esta interdependência se rompe por um voto de censura do parlamento, o
primeiro ministro e seu gabinete caem e é formado um novo governo. Se a crise é
mais profunda o presidente convoca uma nova eleição. Na França e na Roménia o
presidente é responsável pela política externa e o primeiro-ministro pela
interna. Assim no semipresidencialismo o regime se apoia em um tripé formado:
pelo congresso que é o legislador, pelo primeiro-ministro e seu gabinete, que é
o executor e pelo presidente que com o respaldo popular exerce a função política
e moderadora.
Para realização desta mudança de regime é necessário a convocação de uma
constituinte e seus membros estariam impedidos de se candidatarem ao mandato
imediato. Assim poderíamos fazer as reformas que o país necessita, acabar com a
mãe de toda a corrupção e o fantasma dos golpes de estado.
SSA: A Tarde de 23/11/14