Artigos de Jornal
Reforma política versus achacadores
A corrupção existe desde a Colônia, mas ganhou asas nos últimos 20 anos. A
reforma da Casa da Dinda de Collor de Mello soa hoje ridícula e o Mensalão
poderia ser considerado de pequenas causas, segundo Gilmar Mendes, diante dos
tesouros que funcionários da Petrobrás receberam e pagaram a políticos e
partidos. Salvo honrosas exceções, todos os partidos e grandes empresas estão
envolvidas em alguma forma de corrupção. Até a esperança de muitos, Eduardo
Campos, não escapou desta suspeição. E ela não é só na Petrobrás, mas em todas
as obras públicas. No meu artigo “Podemos festejar o fim do mensalão?” de
16/02/12 afirmava:
“Vale recordar que a constituinte de 88 era francamente parlamentarista. Na
última hora, o Presidente Sarney, em função de seus interesses, manteve o regime
presidencialista sem modificar o restante da Carta Magna... No nosso regime
bastardo todas as decisões têm que passar pelo Congresso, embora não exista a
vinculação política intrínseca entre Legislativo e Executivo própria do
parlamentarismo. Nessas circunstancias, o Presidente se quiser governar tem que
‘negociar’ com cada grupo político. Assim a governabilidade depende do toma lá,
dá cá”.
Minhas palavras foram corroboradas recentemente pelo ex-governador e ex-ministro
Cid Gomes ao explicar na UFPA como funciona o Congresso: “Tem lá uns 400
deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles. Eles querem é que o
governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais”.
Diante do Congresso ele disse que a corte estava nua e ninguém o desmentiu. É a
prática do criar dificuldades para vender facilidades. Como evitar isto? Para a
maioria dos políticos basta que a propaganda eleitoral seja paga pelo governo
para eles não precisarem pedir dinheiro para suas campanhas, mas omitem que a
cada semana para votar os projetos do Executivo eles querem alguma vantagem.
Ficou claro na CPI da Petrobrás que as contribuições a partidos e políticos não
ocorriam apenas às vésperas das eleições senão continuamente.
Defendi em artigo de 23/11/14 o regime adotado pela constituição francesa de
1958 e de Portugal de 1976, denominado pelo filosofo francês Maurice Duverger
como semipresidencialismo. Regime vigente em muitos outros países. Ele é um
regime constituído por um presidente eleito pelo voto direto do povo com claras
atribuições constitucionais e um primeiro-ministro eleito pelo parlamento para
executar os projetos de lei. Na França e na Roménia o presidente é responsável
pela política externa e o primeiro-ministro pela política interna. Cabe ao
presidente também dissolver o gabinete sempre que se rompe o alinhamento do
Legislativo com o Executivo, evitando os golpes de estado explícitos ou
disfarçados.
Não é com o impeachement de Dilma ou com o financiamento das campanhas que se
vai revogar a lei de Gerson e resolver a fragilidade de um presidencialismo que
governa com vaselina e medidas provisórias. Só uma constituinte pode mudar a
relação legislativo/executivo. Ainda que nossos parlamentares estivessem
convencidos que esse seria o melhor regime para o país, nunca iriam abrir mão do
cheque em branco que têm no bolso. Constituinte já!
SSA: A Tarde de 29/03/15