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Uma linha de alta tensão

  • 12 de Abril de 2015

Admito as boas intenções de nossos administradores, mas as soluções adotadas estão sempre a contrapelo da racionalidade e da funcionalidade. Um projeto de última hora de João Henrique volta a ser encaminhado à Câmara. É a chamada Linha Viva. Projeto malfadado porque insiste no automóvel como transporte urbano, quando ninguém, mesmo no Brasil, pensa mais nisso. Rio e S. Paulo estão dinamitando os minhocões e criando ciclovias, enquanto nós fazemos viadutos. Malfadada porque vai provocar enorme impacto social e piorar o congestionamento da Estrada do Coco e do Litoral Norte.

Malfadada ainda porque a lógica das linhas de transmissão é saltar de um pico alto para outro e a das vias expressa é buscar o plano. Em consequência disto a Linha Viva deverá ter uma ponte, dois tuneis, 13 minhocões longitudinais, 27 viadutos transversais e de intercomunicação, 61 cortinas de contenção de encostas e 20 praças de pedágio. Imaginem o impacto ambiental e os milhares de pessoas que serão deslocadas. É evidente que esta via de 17,7 km não poderá custar só R$1,5 bilhões e ser paga com pedágio. Ou é incompetência ou propaganda enganosa.

No artigo “O barato sai caro e não funciona” (A Tarde, 10/11/13) dizia que o lugar do metrô deveria ser próximo da Linha Viva pois atenderia a bairros populosos como Saramandaia, Saboeiro, Arenoso, São Marcos, Cassange, Trobogy e Mussurunga dispensando o subsidio das passagens. Esta solução não dividiria a cidade ao meio como o trem da Paralela, e provocaria menos impactos ambientais, pois em lugar de ocupar uma faixa de 100 m. ocuparia apenas 8 m. e não poluiria. Dispensaria, além do mais, os 27 viadutos de transposição e de intercomunicação, já que vias transversais passariam por debaixo dos pequenos trechos elevados do metrô.

A tensão social gerada pelas duas obras irá desgastar as pretensões dos dois principais gestores públicos, como já está ocorrendo com a Barra. No fundo tudo se resume à falta de planejamento. Prova disso é o recente acidente com a principal adutora da cidade provocando alagamentos, apagão hídrico e contaminação da água. Pasmem, ninguém sabia por onde passava a adutora. Já na Av. Bonocô pilares da linha 1 tiveram que ser relocados quando as mesmas construtoras do metrô descobriram que por ali passavam redes de serviços.

As falhas não são somente de planejamento e gestão dessas redes, como de tecnologia construtiva. Geofones permitem localizar o sopro de pequenos vazamentos subterrâneos de aguas. Com esta tecnologia, que custa uma ninharia, japonesas reduziram as perdas a 3%, enquanto a média brasileira e de quase 40%. Como não detectar por onde passava uma adutora?

Os projetos de obras públicas e de infraestrutura deveriam ser selecionados em concurso públicos, como forma de eleição do melhor e não contratados apenas com anteprojetos, ou melhor anti-projetos, através de procedimentos de manifestação de interesse, PMI, e regime especial de contratação, que são formas de driblar as licitações públicas e atender aos interesses do cartel das empreiteiras, como se está vendo nos escândalos do Petrolão e do metrô de São Paulo. Cuidado, choques de alta tensão podem matar e provocar incêndios.

SSA: A Tarde de 12/04/15


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