Artigos de Jornal
Uma linha de alta tensão
Admito as boas intenções de nossos administradores, mas as soluções adotadas
estão sempre a contrapelo da racionalidade e da funcionalidade. Um projeto de
última hora de João Henrique volta a ser encaminhado à Câmara. É a chamada Linha
Viva. Projeto malfadado porque insiste no automóvel como transporte urbano,
quando ninguém, mesmo no Brasil, pensa mais nisso. Rio e S. Paulo estão
dinamitando os minhocões e criando ciclovias, enquanto nós fazemos viadutos.
Malfadada porque vai provocar enorme impacto social e piorar o congestionamento
da Estrada do Coco e do Litoral Norte.
Malfadada ainda porque a lógica das linhas de transmissão é saltar de um pico
alto para outro e a das vias expressa é buscar o plano. Em consequência disto a
Linha Viva deverá ter uma ponte, dois tuneis, 13 minhocões longitudinais, 27
viadutos transversais e de intercomunicação, 61 cortinas de contenção de
encostas e 20 praças de pedágio. Imaginem o impacto ambiental e os milhares de
pessoas que serão deslocadas. É evidente que esta via de 17,7 km não poderá
custar só R$1,5 bilhões e ser paga com pedágio. Ou é incompetência ou propaganda
enganosa.
No artigo “O barato sai caro e não funciona” (A Tarde, 10/11/13) dizia que o
lugar do metrô deveria ser próximo da Linha Viva pois atenderia a bairros
populosos como Saramandaia, Saboeiro, Arenoso, São Marcos, Cassange, Trobogy e
Mussurunga dispensando o subsidio das passagens. Esta solução não dividiria a
cidade ao meio como o trem da Paralela, e provocaria menos impactos ambientais,
pois em lugar de ocupar uma faixa de 100 m. ocuparia apenas 8 m. e não poluiria.
Dispensaria, além do mais, os 27 viadutos de transposição e de intercomunicação,
já que vias transversais passariam por debaixo dos pequenos trechos elevados do
metrô.
A tensão social gerada pelas duas obras irá desgastar as pretensões dos dois
principais gestores públicos, como já está ocorrendo com a Barra. No fundo tudo
se resume à falta de planejamento. Prova disso é o recente acidente com a
principal adutora da cidade provocando alagamentos, apagão hídrico e
contaminação da água. Pasmem, ninguém sabia por onde passava a adutora. Já na
Av. Bonocô pilares da linha 1 tiveram que ser relocados quando as mesmas
construtoras do metrô descobriram que por ali passavam redes de serviços.
As falhas não são somente de planejamento e gestão dessas redes, como de
tecnologia construtiva. Geofones permitem localizar o sopro de pequenos
vazamentos subterrâneos de aguas. Com esta tecnologia, que custa uma ninharia,
japonesas reduziram as perdas a 3%, enquanto a média brasileira e de quase 40%.
Como não detectar por onde passava uma adutora?
Os projetos de obras públicas e de infraestrutura deveriam ser selecionados em
concurso públicos, como forma de eleição do melhor e não contratados apenas com
anteprojetos, ou melhor anti-projetos, através de procedimentos de manifestação
de interesse, PMI, e regime especial de contratação, que são formas de driblar
as licitações públicas e atender aos interesses do cartel das empreiteiras, como
se está vendo nos escândalos do Petrolão e do metrô de São Paulo. Cuidado,
choques de alta tensão podem matar e provocar incêndios.
SSA: A Tarde de 12/04/15