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Síndrome do avestruz

  • 08 de Novembro de 2015

Vivemos uma crise econômica grave com industrias cancelando investimentos, lojas fechando as portas e despedindo milhares de funcionários. E não se conhece nenhum plano para a Bahia e RMS nos próximos anos. Anunciam-se apenas obras faraônicas, de “zilhões” de reais, enquanto se abandona a Fiol e o Porto Sul. O silencio das entidades patronais sobre a crise do nosso sistema produtivo pode ser explicado pela Síndrome do Avestruz, livro de Omar Arkouf, S.P.: Atlas, 2004. Para o autor ela decorre da hegemonia irracional do capital financeiro sobre o produtivo, na pós-globalização.

Entidades patronais têm orçamentos multimilionários, mas não realizam seminários para discutir as oportunidades da crise e o futuro de Salvador e da Bahia. Onde estão as lideranças dos setores industrial, da mineração, dos serviços, da agricultura e pecuária, que não se manifestam publicamente? Neste cenário de omissão, grupos oportunistas manipulam decisões políticas em proveito próprio, em detrimento da sociedade e de outros grupos. Sem que ninguém proteste, a agricultura baiana está perdendo as aguas do Velho Chico, exportadores e importadores sentem a falta de portos, o Rio de Janeiro rouba a ferrovia transcontinental de Vasco Neto e a especulação imobiliária desfigura Salvador, que em 1968 era considerado uma Toledo tropical. Por ter preservado suas cidades, Portugal está sendo salvo pelo turismo.

Discute-se neste momento, em poucas, apressadas e tumultuadas audiências, o PDDU de Salvador e promete-se para março um plano estratégico com horizonte de 35 anos. Deles dependerão a economia soteropolitana, a qualidade de vida urbana, a mobilidade e a segurança. A criação de uma cortina de concreto na orla e a ocupação das últimas áreas verdes pode aumentar em até cinco graus a temperatura da cidade. O adensamento de bairros cujas vias não suportam a demanda de tráfego já trava a circulação. Nessas audiências, como na mídia, a mesma ausência das entidades patronais, dos clubes de serviço e das associações de bairros, especialmente daqueles mais ricos. Só a atividade imobiliária, uma forma de especulação financeira, faz lobby em surdina, e que tudo mais vá para o inferno. Mas a economia urbana, para não falar de urbanidade, não se resume a essa atividade.

Foi por não questionarem, que milhares de proprietários de imóveis da área central e do Comercio viram seus imóveis perderem inquilinos com o esvaziamento funcional daqueles bairros. Outros milhares de proprietários vão entrar neste rol quando a Paralela for transformada num corredor ferroviário e perder o verde. Os moradores de áreas nobres, como a Vitoria, Canela, Barra, e Horto Florestal vão ter que trocar seus blindados por moto-taxis se precisarem sair de casa, por não protestarem quando seus bairros foram marginalizados do metrô e se incentivou pela isenção as vagas de carros por apartamento. As únicas contribuições críticas a esses planos vêm de bravas associações cidadãs, como “A cidade também é nossa”, “Vozes de Salvador” e “Participa”. Mas só se constrói uma nação, um estado e uma cidade com a participação de todos. A hora é esta.

SSA: A Tarde, de 8/11/15


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