Artigos de Jornal
O PDDU e o patrimônio cultural e natural
Cronista da descaracterização sistemática desta cidade, desde a década de 60,
conquistei há cinco anos o privilégio de ter uma coluna quinzenal neste jornal.
Nela procuro retribuir a esta cidade, sem PDDU e Louos há anos, o que recebi
dela, contribuindo para a seu desenvolvimento, analisando a legislação, apontado
alternativas e dando sugestões, nem sempre bem vistas. Participei inclusive de
dois dos fóruns preparatórios do novo PDDU que acaba de ser enviado à Câmara.
Não poderia, neste momento, me omitir de opinar. Devido às limitações deste
espaço, me limitarei ao patrimônio cultural e natural. Em primeiro lugar
estranho a ausência de referências à paisagem desta bela cidade, com mirantes
públicos que vão sendo apropriados progressivamente pelas imobiliárias. Na seção
sobre gerenciamento costeiro desta cidade ornada de praias a tônica são seus
aspectos físicos, muito deles já destruídos, e nada sobre seu uso social. Sugiro
aos leitores e vereadores lerem A praia, espaço de socialidade, de Thales de
Azevedo.
No que toca ao patrimônio cultural, o Centro Histórico, C.H., hoje com 1.500
imóveis escorados, é remetido para o Sistema de Áreas de Valor Ambiental e
Cultural, SAVAM, a ser redigido posteriormente. Mas indiretamente ele é objeto
de outras seções, como a das zonas de centralidades municipais. Ao meu ver,
devido a seu valor simbólico e histórico, ele deveria ser considerado uma
centralidade metropolitana e tratado como zona de uso especial. Isto permitiria
valorizá-lo com funções privilegiadas, como fizeram com sucesso o Rio e o
Recife. Este é um ponto importante, pois a recuperação do C.H. só pode ser
alcançada pelo incremento do seu “valor de uso” e não de troca.
Uma das soluções propostas para ele seria o uso do velho Transcon, um saco de
gatos que junta num mesmo instrumento imóveis de interesse histórico e
ambientais, loteamentos clandestinos mascarados de invasões e sujeitos a
regularização fundiária, implantação de infraestrutura e conjuntos
habitacionais, á custa da verticalização das áreas mais valorizadas e
congestionadas da cidade. Mas, segundo a minuta, o Coeficiente de Aproveitamento
Básico do C.H. seria 1(um) e o seu Coeficiente de Aproveitamento Máximo,
2(dois). Ora, o C. H. é constituído por sobrados de três e até cinco pavimentos,
como na Montanha, que ocupam 80% do lote superando em muito o CAM e, portanto,
sem condição de ceder potencial.
Outro equívoco é imaginar que o Centro Antigo de Salvador e a península
itapagipana poderiam ser recuperados mediante uma Operação Urbana Consorciada.
Este instrumento se apoia no aumento do Coeficiente de Aproveitamento Máximo e
emissão e comercialização de Certificados de Potencial Adicional de Construção,
CEPACs. A ser aprovado este dispositivo, o centro antigo e um dos mais
pitorescos e tradicionais bairros de Salvador seriam verticalizados. Mas os
CEPACs não funcionaram nem numa das áreas mais comerciais do país, o Porto
Maravilha do Rio de Janeiro. A responsabilidade agora é da Câmara e apelo para
seu bom senso.
SSA: A Tarde de 22/11/15