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Dia do arquiteto e urbanista
No último dia 15 foi comemorado o dia do arquiteto e urbanista. Ele
correspondeu ao quarto ano de funcionamento do seu conselho autônomo, o CAU.
Mais que reivindicações corporativas ele segue a tradição de 70 anos do IAB de
defesas de causas mais amplas, como o direito à qualidade de vida urbana e à
habitação. O CAU forma com a OAB e o CFJB uma frende de defesa da sociedade
contra a o arbítrio, o cerceamento da expressão e a degradação do habitat. Nesta
linha o IAB-BA e o CAU/BA elegeram como bandeira do ano que se inicia a defesa
do nosso patrimônio cultural e do planejamento racional e participativo.
O IAB-Ba comemorou o dia na F. de Arquitetura da UFBA com o colóquio
“Patrimônio: para quem e para que? O Conselho de Arquitetura e Urbanismo da
Bahia reuniu os seus afiliados num brunch no final da tarde do dia 16 na Casa do
Comercio para discutir o tema “Patrimônio em risco”. A escolha dos dois temas
complementares foi deflagrada pela demolição, pelo poder público, de 32 imóveis
na Ladeira da Montanha, em maio passado, e pela existência de 1.500 sobrados
ameaçando ruir no nosso Centro Histórico. Para recuperá-los a Presidente do
IPHAN declarou em seminário na F. de Arquitetura da UFBA que o órgão não possui
R$ 1,5 bilhões. Como se não bastasse, agentes imobiliários avançam agora sobre o
nosso centro antigo comprando centenas de casas em Santo Antônio além do Carmo,
Rua Chile, Sodré e Largo 2 de Julho, despejando milhares de moradores.
Esta cidade foi considerada uma Toledo tropical pelo Arq. Michael Parent, em
missão da UNESCO, em 1968. Mas foi sendo destruída sistematicamente nos últimos
47 anos pela especulação imobiliária e pela incompetência de nossos alcaides,
com prejuízo incalculável para sua imagem universal. Uma elite intelectual
acovardada, uma classe média novo-riche com um pé em Miami e autoridades
coniventes permitiram que se consumasse esse desastre. Mas hoje o cenário é
diverso. Temos aliados fortes, como o Ministério Público e movimentos sociais
como o fórum “A cidade também é nossa” que reúne 38 associações profissionais,
de bairros e de defesa ambiental. O IAB-BA quer ampliar sua representação com a
atração de outros setores da sociedade. Para isso, convidou para o seu colóquio
representantes da Associação Comercial da Bahia, do IGHBA, da ABI e das
Fundações Pedro Calmon e Gregório de Mattos.
O CAU/BA com o IAB-BA e Sinarq/Ba haviam dirigido um pedido a Unesco de uma
missão de avalição do estado do C.H, visando a sua inclusão na lista dos sítios
mundiais em risco. Visavam com isso que o IPHAN conseguisse junto aos
ministérios do Planejamento, da Fazenda, das Cidades recurso adicionais para
fazer frente a essa emergência. Se o Brasil quiser ter sítios culturais e
naturais naquela prestigiosa lista tem que pagar o preço. Para discutir esta
questão, o CAU/BA convidou o Ministro da Cultura, a presidente do IPHAN e o seu
assessor principal, mas todos declinaram do convite alegando razões diversas, o
mesmo fazendo o diretor do IPAC.
O presidente do ICOMOS Brasil, órgão assessor da Unesco, foi além, exigiu um
cachê para vir discutir a conservação de um sitio tombado pela UNESCO. Sem eles
o seminário ouviu as conferencias dos arquitetos Romeu Duarte Jr., do Ceará, e
Milena Dias Tavares, da F. Gregório de Mattos, e aprovou resolução de realizar
um fórum especifico sobre o C.H. com a presença de representantes da Unesco,
Iphan e Ipac, para encontrar uma solução para o problema. A luta hoje não é
apenas pela preservação do C,H, senão de toda a cidade. Nesse sentido a liminar
do M.P. para a paralização da construção do Ed. La Vue, na Barra, pioneiro da
criação de uma barreira entre o Atlântico e a cidade foi um presente para todos
que lutam pela defesa da cidade. Feliz natal Salvador !
SSA: A Tarde, 20/12/15