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PDDU, Patrimônio e Paisagem

  • 28 de Fevereiro de 2016

No último dia 15 foi realizada a 2ª Oficina do MPE sobre o PDDU, que é muito omisso sobre os temas acima. Convidado, dei um depoimento sobre a situação do nosso patrimônio do qual reproduzo as propostas que sugeri:

“A requalificação da área central da cidade incluindo o Comercio exige a elaboração de plano urbanístico que não se restrinja a indicar monumentos que devem ser restaurados. É preciso integrar esta área à dinâmica da cidade. Do ponto de vista funcional, é preciso fortalecer a atividade habitacional, especialmente no C.H, onde ela foi excluída em 1992. Existem ali 1.500 ruinas, que se prestam para um projeto do tipo “Minha casa, minha vida”, com a vantagem de ser central e já dispor de infraestrutura urbana. Atividades tradicionais devem ser fortalecidas como as ruas comerciais. Esta atividade sempre foi uma tradição da área, com sítios como a Conceição da Praia e ruas Portugal e Conselheiro Dantas, no Comercio, e Baixa dos Sapateiros, Rua Chile e Av. Sete de Setembro, na cidade alta. Importante também é a ampliação dos incentivos a novas funções compatíveis com a estrutura edilícia da área, como faculdades, call-centers e pequena hotelaria. O momento é propicio, quando os shoppings em todo o mundo estão em crise e as associações de lojistas de ruas se fortalecem. A experiência bem-sucedida dos BIDs- Business Improviment District canadense/americano pode ser adaptada a nossa realidade.

O Comercio é uma área de grande potencial de desenvolvimento. De uma parte, pelo reaproveitamento dos galpões das docas, como fizeram em Baltimore nos EUA, Porto Madero na Argentina e Manaus. A ampliação do porto e instalação de serviços ligados a ele é outra perspectiva importante. De outra parte, pelo aproveitamento da gleba do Hospital Naval de Salvador para uma função inovadora e germinadora de outros usos. Acrescente-se a isso a transformação do Forte de São Marcelo em ponto de observação do frontispício da cidade, à semelhança da estátua da Liberdade, em Nova York. Para isto é necessário a instalação de um pequeno teleférico ligando-o ao quebra-mar sul.

O outro problema grave da área central é a acessibilidade. Apesar de toda a marginalização ocorrida nos últimos 40 anos é possível integra-la à rede de transporte de massa, através de túneis com esteiras, escadas rolantes e elevadores, como já foi objeto de Trabalho Final de Graduação na Faculdade de Arquitetura da UFBA. Quando trabalhei no IPHAN, há 40 anos, desenvolvi um projeto para ligar a colina da Sé e Santo Antonio Além do Carmo com a segunda linha de colinas mediante passarelas sobre a Baixa dos Sapateiros. Uma dessas passarelas foi desenvolvida por Lelé, pouco antes de sua morte, ligando a rua das Laranjeiras e o mercado de São Miguel à Av. Juana Angélica. Uma outra passarela ligaria a Saúde a Santo Antonio Além do Carmo. Estas passarelas eliminariam o esforço de descer e subir ladeiras para chegar ao Centro Histórico, facilitando sua integração à cidade. A articulação dos dois níveis da área central exige a renovação e ampliação do sistema de ascensores que deveria ser integrado ao sistema de transporte de massa da cidade, com passagem única de metrô, BRT, ónibus e ascensores.

Finalmente quero lembrar a questão da paisagem. Em nenhum momento se fala em paisagem na minuta do PDDU, para além dos parques e áreas verdes. Refiro-me às vistas para a Baia de Todos os Santos e Oceano Atlântico com a rede de mirantes que foi criada e enriquecida desde o período colonial e que está sendo destruída pela especulação imobiliária. Ajunte-se a isto algumas formações naturais que adquiriram significação cultural, como as colinas do Bonfim e de Santo Antonio da Barra, as dunas do Litoral Norte e o coqueiral ciliar da Orla do Atlântico”.

SSA: A Tarde de 28/02/16


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