Artigos de Jornal
PDDU, Patrimônio e Paisagem
No último dia 15 foi realizada a 2ª Oficina do MPE sobre o PDDU, que é muito
omisso sobre os temas acima. Convidado, dei um depoimento sobre a situação do
nosso patrimônio do qual reproduzo as propostas que sugeri:
“A requalificação da área central da cidade incluindo o Comercio exige a
elaboração de plano urbanístico que não se restrinja a indicar monumentos que
devem ser restaurados. É preciso integrar esta área à dinâmica da cidade. Do
ponto de vista funcional, é preciso fortalecer a atividade habitacional,
especialmente no C.H, onde ela foi excluída em 1992. Existem ali 1.500 ruinas,
que se prestam para um projeto do tipo “Minha casa, minha vida”, com a vantagem
de ser central e já dispor de infraestrutura urbana. Atividades tradicionais
devem ser fortalecidas como as ruas comerciais. Esta atividade sempre foi uma
tradição da área, com sítios como a Conceição da Praia e ruas Portugal e
Conselheiro Dantas, no Comercio, e Baixa dos Sapateiros, Rua Chile e Av. Sete de
Setembro, na cidade alta. Importante também é a ampliação dos incentivos a novas
funções compatíveis com a estrutura edilícia da área, como faculdades,
call-centers e pequena hotelaria. O momento é propicio, quando os shoppings em
todo o mundo estão em crise e as associações de lojistas de ruas se fortalecem.
A experiência bem-sucedida dos BIDs- Business Improviment District
canadense/americano pode ser adaptada a nossa realidade.
O Comercio é uma área de grande potencial de desenvolvimento. De uma parte, pelo
reaproveitamento dos galpões das docas, como fizeram em Baltimore nos EUA, Porto
Madero na Argentina e Manaus. A ampliação do porto e instalação de serviços
ligados a ele é outra perspectiva importante. De outra parte, pelo
aproveitamento da gleba do Hospital Naval de Salvador para uma função inovadora
e germinadora de outros usos. Acrescente-se a isso a transformação do Forte de
São Marcelo em ponto de observação do frontispício da cidade, à semelhança da
estátua da Liberdade, em Nova York. Para isto é necessário a instalação de um
pequeno teleférico ligando-o ao quebra-mar sul.
O outro problema grave da área central é a acessibilidade. Apesar de toda a
marginalização ocorrida nos últimos 40 anos é possível integra-la à rede de
transporte de massa, através de túneis com esteiras, escadas rolantes e
elevadores, como já foi objeto de Trabalho Final de Graduação na Faculdade de
Arquitetura da UFBA. Quando trabalhei no IPHAN, há 40 anos, desenvolvi um
projeto para ligar a colina da Sé e Santo Antonio Além do Carmo com a segunda
linha de colinas mediante passarelas sobre a Baixa dos Sapateiros. Uma dessas
passarelas foi desenvolvida por Lelé, pouco antes de sua morte, ligando a rua
das Laranjeiras e o mercado de São Miguel à Av. Juana Angélica. Uma outra
passarela ligaria a Saúde a Santo Antonio Além do Carmo. Estas passarelas
eliminariam o esforço de descer e subir ladeiras para chegar ao Centro
Histórico, facilitando sua integração à cidade. A articulação dos dois níveis da
área central exige a renovação e ampliação do sistema de ascensores que deveria
ser integrado ao sistema de transporte de massa da cidade, com passagem única de
metrô, BRT, ónibus e ascensores.
Finalmente quero lembrar a questão da paisagem. Em nenhum momento se fala em
paisagem na minuta do PDDU, para além dos parques e áreas verdes. Refiro-me às
vistas para a Baia de Todos os Santos e Oceano Atlântico com a rede de mirantes
que foi criada e enriquecida desde o período colonial e que está sendo destruída
pela especulação imobiliária. Ajunte-se a isto algumas formações naturais que
adquiriram significação cultural, como as colinas do Bonfim e de Santo Antonio
da Barra, as dunas do Litoral Norte e o coqueiral ciliar da Orla do Atlântico”.
SSA: A Tarde de 28/02/16