Artigos de Jornal
Empreteira faz ato de contrição
Os escândalos atuais serviram para demonstrar que a corrupção é endêmica no
pais e envolve políticos de todos os partidos, as empreiteiras, bancos e
empresas internacionais. A lei de Gerson é intrínseca ao capitalismo. Mas o
“presidencialismo de comissão” facilita o pecado. Desde Sarney, todos os
presidentes compraram votos para governar. A compra se faz com propina (seis
bi.), obras superfaturadas (60 bi.), cargos e emendas parlamentares. Vou me ater
às obras superfaturadas.
As leis de licitação preveem que na aquisição de bens e serviços os critérios
podem ser: menor preço, melhor técnica e relação técnica/preço. Na prática se
adota sempre o primeiro critério, por ser o mais fácil de fraudar. Compra-se o
que há de pior no mercado e superfatura-se com termos aditivos. Como não se
exige um projeto executivo, não há como fiscalizar. As obras dos Jogos
Pan-Americanos de 2007 estão caindo e não poderão ser utilizadas nas Olimpíadas.
A ciclovia da Av. Niemeyer caiu porque foi licitada com um projeto básico.
Para “agilizar” as obras da Copa, inventou-se o “regime diferenciado de
contratação”, que não exige nem projeto básico. Um viaduto em Belo Horizonte
caiu antes de ser inaugurado, dois outros em Cuiabá foram interditados. Nossos
estádios custaram quatro vezes mais que os europeus e sul-africanos. Quantas
vidas e bilhões de reais custa isso à nação? Recentemente a Andrade Gutierrez
fez um pedido patético de perdão. Para evitar novas tentações repetiu
jaculatórias do velho catecismo dos conselhos de arquitetura, meio ambiente e
engenharia: obrigatoriedade prévia de estudos de viabilidade técnico-econômico
da obra, projeto executivo, licença ambiental e início das obras somente com
alocação de recursos totais. Recebeu como penitencia do bispo devolver um bilhão
de reais. Sem a mudança do regime político e uma nova lei de licitação vai
continuar a pecar.
SSA: A Tarde, 22/5/16