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A política como Reality Show

  • 22 de Junho de 2016

O primeiro reality show chamava-se The American Family (1973). Era uma serie sem script e com personagens reais. Na forma atual, com prêmios milionários, Big Brother, surgiu na Holanda em 1999. Samuel Mateus (2015) associa seu sucesso ao caráter testemunhal e cumplice da audiência, que banaliza condutas transgressoras. As intrigas, fuxicos e transas são acompanhadas ao vivo por torcidas nas casas. A lei de Gerson é uma dessas condutas. O decorador cobra comissão da loja de tapetes, que por sua vez cobra do assentador. Outros profissionais fazem o mesmo, como mostrado na TV. Mas todos acham tirar vantagem legal.

A relação do reality show com a política é evidente. Vivemos numa sociedade do espetáculo comandada pela imagem, já demonstrada por Guy Debord (1967). O nome do programa foi tirado do livro de George Orwell “1984”, em que o autor descreve uma sociedade diuturnamente monitorada por um estado omnipresente. Já vivemos esta realidade com smart-phones, tablets e cartões de crédito que nos monitorizam todo tempo. Os últimos escândalos políticos demonstram este fato. Um simples pigarro a uma “pegadinha” de um amigo-espião, dentro de sua própria casa, pode ser considerado um “sim” e prova do crime.

A TV conseguiu transformar o país em um imenso reality show. O que vemos no Jornal Nacional é o Big Brother Brasil: uma nação sem script ou história, com políticos e empresários disputando entre si, monitorados 24 horas por câmaras e escutas secretas. Um showman, como Bial, comanda o espetáculo mandando cada participante ao confessionário para delatar o companheiro em sigilo, mas exibido na telinha para os de casa. Com o apoio da audiência cúmplice, um a um é fuzilado no paredão da cidadania e mandado para casa com tornozeleira. O mais esperto sobrevive e é proclamado vencedor ganhando o prémio máximo. A política imita a TV.

SSA: A Tarde, 22/06/16


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