Artigos de Jornal
A política como Reality Show
O primeiro reality show chamava-se The American Family (1973). Era uma serie
sem script e com personagens reais. Na forma atual, com prêmios milionários, Big
Brother, surgiu na Holanda em 1999. Samuel Mateus (2015) associa seu sucesso ao
caráter testemunhal e cumplice da audiência, que banaliza condutas
transgressoras. As intrigas, fuxicos e transas são acompanhadas ao vivo por
torcidas nas casas. A lei de Gerson é uma dessas condutas. O decorador cobra
comissão da loja de tapetes, que por sua vez cobra do assentador. Outros
profissionais fazem o mesmo, como mostrado na TV. Mas todos acham tirar vantagem
legal.
A relação do reality show com a política é evidente. Vivemos numa sociedade do
espetáculo comandada pela imagem, já demonstrada por Guy Debord (1967). O nome
do programa foi tirado do livro de George Orwell “1984”, em que o autor descreve
uma sociedade diuturnamente monitorada por um estado omnipresente. Já vivemos
esta realidade com smart-phones, tablets e cartões de crédito que nos
monitorizam todo tempo. Os últimos escândalos políticos demonstram este fato. Um
simples pigarro a uma “pegadinha” de um amigo-espião, dentro de sua própria
casa, pode ser considerado um “sim” e prova do crime.
A TV conseguiu transformar o país em um imenso reality show. O que vemos no
Jornal Nacional é o Big Brother Brasil: uma nação sem script ou história, com
políticos e empresários disputando entre si, monitorados 24 horas por câmaras e
escutas secretas. Um showman, como Bial, comanda o espetáculo mandando cada
participante ao confessionário para delatar o companheiro em sigilo, mas exibido
na telinha para os de casa. Com o apoio da audiência cúmplice, um a um é
fuzilado no paredão da cidadania e mandado para casa com tornozeleira. O mais
esperto sobrevive e é proclamado vencedor ganhando o prémio máximo. A política
imita a TV.
SSA: A Tarde, 22/06/16