Artigos de Jornal
Alma mater gentil
Não fui à abertura das comemorações dos 70 anos da UFBA porque tinha outro
compromisso, mas não sei se queria ir. Vivi a juventude da UFBA e não quero
vê-la envelhecer. Em 1946 vivíamos a redemocratização com a vitória sobre o
nazi-fascismo e o Estado Novo, o início da industrialização da Bahia com o
petróleo de Candeias. No governo: Otavio Mangabeira, Anísio Teixeira e Nestor
Duarte restauravam a autoestima ferida baiana. Na recém fundada universidade,
Edgar Santos revolucionava a cultura.
A UFBA foi um estouro na década de 1950, como vanguarda nacional das artes. Já
havia um movimento inovador na literatura e nas artes, mas Edgar engrossou estes
movimentos trazendo Koellreuter, Widmer, Benda, Yanka Rudzka e Martim Gonçalves,
que faziam espetáculos nas ruas, para as recém-criadas escolas de Música, Dança
e Teatro. Rebouças trouxe Lina Bardi para a arquitetura, que seria cooptada pelo
estado para fundar o Museu do Unhão e consolidar a obra de Edgar, depois de sua
queda. Este movimento criou outros, como o cinema novo de Glauber e a
Tropicália. Processo semelhante ocorreu na Medicina, Geociências, Ciências
Sociais e Humanidades. Vivia-se a universidade. O primeiro golpe veio em 1964,
com a deposição de Lina, prisão de Juarez e demissão de professores. Hoje a UFBA
está sendo desidratada. Em homenagem aos seus 70 anos destilei este soneto.
Alma mater gentil
À Ufba
Periga a alma mater perder sua altura
com o falso resgate de déficits públicos
pelas mãos-sujas de corruptos políticos
debilitando a educação e a cultura.
Doe-me saber que grupo de alunos existe
no exterior sem receber a bolsa devida
para o estudo, chorando a láurea perdida.
Com essas cousas, vivo eu muito triste.
“E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te”
Peço a Deus que saia de novo á rua
a velha trupe rufando os seus tambores
na esperança de nunca mais ver-te nua.
SSA: A Tarde, 17/07/16