Artigos de Jornal
O movimento estudantil ressurge
As eleições municipais revelaram a descrença do povo em nossos políticos. Na
maioria das cidades as abstenções e votos em branco e nulos foi maior que o do
vencedor. As grandes cidades elegeram não políticos. Não é de admirar, depois
das denúncias de corrupção envolvendo o alto clero de todos os partidos e o show
de oligofrenia do baixo clero na sessão da Câmara do impeachment. Forças
políticas, como as centrais sindicais se enfraqueceram com o desgaste dos
partidos a que estavam ligadas.
O movimento estudantil não conseguia se soerguer depois que os militares
invadiram e incendiaram a sede da UNE, em 1964, no Rio. Esta instituição teve um
papel importantíssimo formando lideranças políticas e liderando campanhas como
“O petróleo é nosso”. A UNE foi extinta, mas resistiu na clandestinidade,
organizando a Passeata dos 100 mil, devido à execução do secundarista Edison
Luis, e realizando em 1968 um congresso em Ibiuna (SP), quando foram presos 1000
estudantes. No fim do mesmo ano foi decretado o AI-5. Volta a atuar com as
campanhas “Diretas já” e “Fora Collor”, mas perde força a seguir.
A nação está paralisada com a novela do Lava-a-Jato. Diante das propostas
polêmicas do governo de turno, era de se esperar maior contestação para, pelo
menos, parecer que há oposição. Mas para surpresa geral, são os secundaristas
que levantam a bandeira da educação e assumem um papel protagônico neste
processo. Primeiro ocupando as escolas que o governo de São Paulo queria fechar
para fazer caixa. Agora ocupando 1000 escolas em 19 estados em protesto pela MP
do ensino secundário e PEC 241, fazendo adiar o ENEM.
Não são baderneiros, lutam por um ideal e não vão desistir. Uma garota de 16
anos, Ana Julia, fez na Assembleia do Paraná o discurso político mais
contundente que ouvi nos últimos anos (https://youtu.be/N29aXIo3cHM). O
movimento estudantil ressurge e começa a mobilizar toda a sociedade.
SSA: A Tarde, 6/11/16