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Finalmente o Uber secundarista
Comissões de deputados e senadores, reunidos em 30/11 e 13/12, sem ouvir a
sociedade nem os educadores, aprovaram com pequena alteração a medida provisória
PM 746. Originalmente ela obrigava apenas o ensino de português, matemática e
inglês, um programa primário. Diante da grita da sociedade, os legisladores
reincluíram a educação física, as artes, a sociologia e a filosofia. O ensino da
história, fundamental para a formação do aluno, é opcional. A ideia básica é
formar mão de obra para o mercado. Pela MP, 60% da carga horaria dos alunos deve
ser preenchida por essa Base Nacional Comum Curricular. Cerca de oito milhões de
secundaristas estarão sujeitos a este regime. O tempo integral deve ser
implantado em quatro anos, mas o Governo Federal tem 10 anos para repassar
recursos aos estados.
A mesma medida estabelece que para ensinar em escola de nível médio o professor
não precisa ser licenciado, basta obter um título de notório-saber. Na academia,
o notório-saber é um título excepcional atribuído a um pesquisador reconhecido
nacionalmente, que dispensa e vale mais que a um doutorado. Usado como senha num
programa tipo Mais Professores, este instrumento vai ser banalizado e
desqualificar o homônimo universitário. Mesmo o programa Mais Médicos não
dispensa o diploma universitário.
A PM 746 cria um sistema semelhante ao Uber, em que o taxista não precisa ser
profissional, é um amador que após responder a um questionário é credenciado a
fazer corridas por preço mais baixo. Em outras palavras, o dono da escola pode
chamar por um aplicativo o amador mais próximo e negociar com ele o menor preço
da hora-aula e dispensá-lo nas férias. O sistema permite também que a escola
considere a evolução das espécies de Darwin uma farsa e volte ao criacionismo
medieval.
As universidades privadas brasileiras, que respondem por 80% do alunato
superior, estão sendo progressivamente compradas por corporações
norte-americanas que só visam o lucro e seus interesses. Suas aulas são
monitoradas por minicâmaras. Na mesma linha, um Projeto de Lei de Eduardo
Bolsonaro estabelece a obrigatoriedade de as escolas fixarem nas salas de aula
um decálogo que proíbe ao professor expressar sua opinião. Se ele desobedecer,
pode ser dedo-durado por qualquer aluno. A legislação brasileira proíbe que um
estrangeiro seja dono de uma companhia de aviação para não bombardear o país,
mas não proíbe que corporações estrangeiras possam controlar o pensamento da
nação.
A ciência e a tecnologia, que seriam as alavancas do nosso desenvolvimento,
recebe apenas 0,27% do Orçamento Geral da União, contra 43% pagos aos bancos.
Essa migalha vai ainda ser comprimida contra o teto da PEC 55 com o crescimento
das demandas sociais.
SSA: A Tarde, 18/12/16