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Alma mater gentil

  • 17 de Julho de 2017

Não fui à abertura das comemorações dos 70 anos da UFBA porque tinha outro compromisso, mas não sei se queria ir. Vivi a juventude da UFBA e não quero vê-la envelhecer. Em 1946 vivíamos a redemocratização com a vitória sobre o nazi-fascismo e o Estado Novo, o início da industrialização da Bahia com o petróleo de Candeias. No governo: Otavio Mangabeira, Anísio Teixeira e Nestor Duarte restauravam a autoestima ferida baiana. Na recém fundada universidade, Edgar Santos revolucionava a cultura.

A UFBA foi um estouro na década de 1950, como vanguarda nacional das artes. Já havia um movimento inovador na literatura e nas artes, mas Edgar engrossou estes movimentos trazendo Koellreuter, Widmer, Benda, Yanka Rudzka e Martim Gonçalves, que faziam espetáculos nas ruas, para as recém-criadas escolas de Música, Dança e Teatro. Rebouças trouxe Lina Bardi para a arquitetura, que seria cooptada pelo estado para fundar o Museu do Unhão e consolidar a obra de Edgar, depois de sua queda. Este movimento criou outros, como o cinema novo de Glauber e a Tropicália. Processo semelhante ocorreu na Medicina, Geociências, Ciências Sociais e Humanidades. Vivia-se a universidade. O primeiro golpe veio em 1964, com a deposição de Lina, prisão de Juarez e demissão de professores. Hoje a UFBA está sendo desidratada. Em homenagem aos seus 70 anos destilei este soneto
.

Alma mater gentil

À Ufba

Periga a alma mater perder sua altura
com o falso resgate de déficits públicos
pelas mãos-sujas de corruptos políticos
debilitando a educação e a cultura.

Doe-me saber que grupo de alunos existe
no exterior sem receber a bolsa devida
para o estudo, chorando a láurea perdida.
Com essas cousas, vivo eu muito triste.

“E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te”

Peço a Deus que saia de novo á rua
a velha trupe rufando os seus tambores
na esperança de nunca mais ver-te nua.


SSA: A Tarde, 17/07/2016


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