Artigos de Jornal
O perigo nosso de cada dia
Os incêndios do World Trade Center, em 2001, que matou 2.750 pessoas e o
recente da Grenfell Tower, em Londres, que vitimou mais de 70, são alertas sobre
a insegurança das novas edificações. A construção tradicional utilizava
materiais incombustíveis, como tijolos, concreto, cerâmicas e mármores. Esses
materiais estão sendo substituídos por plástico (Barroquinha) e vidro nas
fachadas e divisórias de gesso e MDF, que não barram o fogo. Os pisos de vinil,
carpetes e forros acústicos são rastilhos de fogo. Para piorar, esses materiais
ao se queimarem exalam gases tóxicos.
Normas americanas e europeias exigiam que estruturas metálicas fossem revestidas
de amianto ou concreto. A proibição do uso do amianto e a preocupação dos
construtores em diminuir seus custos, com o emprego de materiais mais leves, são
os responsáveis por essas tragédias. Estamos cada vez mais utilizando estruturas
de aço sem proteção e sintéticos na construção. Há também erros de projeto, como
escadas contínuas, sem iluminação natural, saídas infra-dimensionadas e mal
localizados e portas que não se abrem para fora. Deve- se a esses erros a
tragédia da boate Kiss em Santa Maria, RS, que matou 242 jovens.
Os nossos shoppings são campânulas de monóxido de carbono, sem alarmes
automáticos nem sinalização de escape. Seus cinemas são garrafões com uma única
saída, contra todas as normas. Por outro lado, nossas torres de 20 ou mais
andares não possuem hidrantes prediais e muitas estão localizados em ruas onde
não entram grandes caminhões. Outros têm blocos de garagem que não permitem a
aproximação de escadas Magirus, que em Salvador não vão além do 6º andar. Estes
são pontos a serem discutidos com a sociedade, quando se elabora o novo código
de obras, e se começa a implementar a Lei do Incêndio, para que não se repitam
as tragédias do Joelma, que matou 188 em 1974, lojas Renner, em Porto Alegre,
onde morreram 41 pessoas em 1976, ou não se destrua um teatro milionário na
véspera da inauguração. Como seguro morreu de velho, vou botar uma máscara e um
rapel na mochila.
SSA, A Tarde, 30/07/17