Artigos de Jornal
O naufrágio do Presidencialismo de Coalizão
Em 16/08/12 escrevi neste jornal o artigo “Podemos festejar: mensalão nunca
mais?” Minha hipótese era que a corrupção era consequência do regime político
que vivemos. Temos uma constituição parlamentarista, que exige que tuto passe
pelo congresso, e o presidente, sem o apoio institucional do mesmo, tem a chave
do cofre. Para governar, ele tem que dar vantagens a deputados e senadores.
Dizia que desde 1985 todos os presidentes foram envolvidos em denúncias de
corrupção ligadas à governabilidade. Passados cinco anos a corrupção só cresceu
e parece comprovar a minha tese. Dizia também que “a compra de votos não se faz
apenas com reais e dólares, mas com dotações, emendas parlamentares, contratos
de obras, cargos e comissões, sem que estas práticas sejam consideradas
ilegais”. A Lava Jato comprovaria que as obras públicas são o principal duto de
corrupção.
Temer iniciou o governo anunciando a diminuição dos ministérios e fazendo
jantares para consolidar sua base política, mas logo precisou restaurar as
pastas para conseguir apoio de políticos suspeitos. Para adiar seu julgamento
pelo STF teve que perdoar dívidas de estados e da bancada ruralista, liberar
emendas parlamentares e obras milionárias para governadores e dar cargos aos
aliados. Gastos estimados pelas revistas econômicas em R$13 bilhões. Mas não
bastou isso, o Centrão, que lhe deu a vitória a preço de ouro, quer mais e
ameaça não votar as reformas. Refém de achacadores, ele se diz agora simpático
ao parlamentarismo, mas sabe que não conseguirá aprova-lo.
Sergio Abranches, principal teórico do presidencialismo de coalização, que só
favoreceu a corrupção e os partidos de aluguel, reconhecia que o
parlamentarismo, não seria a solução, considerando as nossas especificidades.
Esquerda e direita preferem o presidencialismo por não confiarem em nossos
parlamentares. Nesse quadro, resta-nos apenas o semi-presidencialismo, regime
instituído por De Gaule na França, em 1958, e adotado, com sucesso, pela maioria
dos países que saíram da União Soviética. Ao contrário do parlamentarismo, o
presidente, eleito pelo voto universal, tem uma serie de poderes e é o chefe do
Estado, enquanto que o chefe do Governo é o primeiro ministro, que lida com as
questões internas e goza do apoio do parlamento, já que é eleito por ele. Nesse
regime de coabitação, o poder é dividido por três instancias: o presidente, o
primeiro ministro e o parlamento. O semi-presidencialismo enfrentou o tsunami
político e social de 1968 e a tentativa recente de tomada do poder pela extrema
direita na França. Infelizmente a chamada reforma política que tramita no
Congresso é apenas uma minirreforma eleitoral e não vai resolver nada, nem
revogar a Lei de Gerson. “É preciso que tudo mude para que tudo continue como
está”, Lampedusa, in Il Gattopardo.
SSA: A Tarde, 13/08/17