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Um balão solto na praça

  • 27 de Agosto de 2017

Fazia eu minha caminhada na praça Ana Lucia Magalhães, na Pituba, quando um balão se soltou de uma criança e começou a voar levando os meus pensamentos. As praças mediterrâneas são secas, desde a Antiguidade, não têm vegetação. Mas para compensar, têm uma fonte. Ali a população ia recolher a agua e jogar conversa fora. Hoje os turistas vão se banhar durante o calor do ferragosto. Também tivemos essas fontes: “Fui no Tororó beber água não achei/Achei a bela morena/ Que no Tororó deixei”.

As fontes barrocas chegam a ser exageradas, como a Fontana di Trevi, maior que a própria praça. Prefiro a delicada Fontana delle Tartarughe no ghetto de Roma. Notáveis são as praças de armas, ou zócalos, reminiscência islâmica, da América espanhola. Algumas em lugar da fonte tem uma glorieta, mas todas têm portais onde a população passeia a coberto, namorando, bebericando e comprando. Vivi seis meses em Cusco, no Peru, e curti muito sua praça de armas, que está no mesmo local da milenar Huacaypata incaica. Seus portais ainda conservam a memória de seus antigos mercaderes: portal de carnes, de panes, de harinas, de carrizos e de los escribanos, aqueles que rabiscavam cartas e petições para os iletrados.

As praças de armas espanholas são uma imitação das hispano americanas criadas pelos conquistadores. Gosto de entrar através de vielas tortuosas na geometria mais-que-perfeita da praça de armas de Victoria, no país basco. Praças no tropico sem arvores, bancos para namorados, pássaros, gatos e micos, com piquetes e onde é proibido pisar na grama não são praças, são solários. Ruminando recordações, meu balão foi pousar entre outros coloridos no verde zócalo de Oaxaca, no México, com seus grandes louros da Índia, que resistem aos prefeitos e onde ainda existem engraxates, cantadores, realejos, lambe-lambes e camelôs loquazes, como antigamente na nossa praça Cairu. “Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:/ O que vende balõezinhos de cor/ O macaquinho que trepa no coqueiro.../ Alegria das calçadas.../ E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância” (Bandeira).

SSA, A Tarde, 27/08/17


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