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Quadrilha
O dicionário Houaiss registra 15 significados para a expressão, a maioria
ligada a competições com cavalos, jogos e danças juninas. Mas a acepção mais
popular tem caráter pejorativo: bando de malfeitores, súcia, corja. Foi
inspirada na brincadeira em roda em que todos dançam, que Carlos Drummond de
Andrade, escreveu um delicioso poema com esse título, que reproduzo a seguir:
“João amava Teresa que amava Raimundo/que amava Maria que amava Joaquim que
amava Lili/que não amava ninguém. /João foi para os Estados Unidos, Teresa para
o convento, /Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, /Joaquim
suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes/que não tinha entrado na
história”.
Trocando o verbo amar por delatar e a expressão convento pelo sinônimo prisão
teremos um retrato fiel da quadrilha de políticos, com honrosas exceções, e da
súcia de empresários que governam e querem continuar mandando no país. Como no
poema, podemos ter uma surpresa inesperada com um fascista sequestrando a noiva.
Queremos o julgamento e prisão dos corruptos, mas sem o espetáculo midiático que
nos paralisou nos últimos três anos e disseminou a descrença no país. A crise
não é só moral, senão estrutural do regime político hibrido de presidencialismo
e parlamentarismo que Sarney criou em 1988.
O presidencialismo de coalisão chegou ao fim. Estamos à deriva porque só se
governa dando vantagens aos parlamentares: mensalão, anistia fiscal, cargos de
confiança, perdão de dívidas, obras para empresários corruptos e emendas
parlamentares para primeiras damas e amigos. Vivemos o presidencialismo
Frankenstein, ao som do samba de uma nota só. Já não se ouve falar de
Legislativo nem Executivo.
Mas discutir uma nova constituição neste momento de instabilidade política e
econômica seria uma temeridade. Não temos, portanto, nenhuma perspectiva de
estabilidade política e retomada do crescimento, a médio prazo, num panorama de
falência institucional e recrudescimento da guerra comercial global que está se
apropriando do país em liquidação. Salve os que morreram pelo 2 de julho!
SSA: A Tarde de 1º/7/18