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Quadrilha

  • 01 de Julho de 2018

O dicionário Houaiss registra 15 significados para a expressão, a maioria ligada a competições com cavalos, jogos e danças juninas. Mas a acepção mais popular tem caráter pejorativo: bando de malfeitores, súcia, corja. Foi inspirada na brincadeira em roda em que todos dançam, que Carlos Drummond de Andrade, escreveu um delicioso poema com esse título, que reproduzo a seguir:

“João amava Teresa que amava Raimundo/que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/que não amava ninguém. /João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, /Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, /Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes/que não tinha entrado na história”.

Trocando o verbo amar por delatar e a expressão convento pelo sinônimo prisão teremos um retrato fiel da quadrilha de políticos, com honrosas exceções, e da súcia de empresários que governam e querem continuar mandando no país. Como no poema, podemos ter uma surpresa inesperada com um fascista sequestrando a noiva. Queremos o julgamento e prisão dos corruptos, mas sem o espetáculo midiático que nos paralisou nos últimos três anos e disseminou a descrença no país. A crise não é só moral, senão estrutural do regime político hibrido de presidencialismo e parlamentarismo que Sarney criou em 1988.

O presidencialismo de coalisão chegou ao fim. Estamos à deriva porque só se governa dando vantagens aos parlamentares: mensalão, anistia fiscal, cargos de confiança, perdão de dívidas, obras para empresários corruptos e emendas parlamentares para primeiras damas e amigos. Vivemos o presidencialismo Frankenstein, ao som do samba de uma nota só. Já não se ouve falar de Legislativo nem Executivo.

Mas discutir uma nova constituição neste momento de instabilidade política e econômica seria uma temeridade. Não temos, portanto, nenhuma perspectiva de estabilidade política e retomada do crescimento, a médio prazo, num panorama de falência institucional e recrudescimento da guerra comercial global que está se apropriando do país em liquidação. Salve os que morreram pelo 2 de julho!

SSA: A Tarde de 1º/7/18


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