Artigos de Jornal
Mudanças sociais e crise imobiliária
O setor imobiliário dizia que sua crise se devia ao antigo PDDU. Conseguiram
o que queriam, mas os estoques não baixaram. Neste ano, está havendo um
rescaldo, mas está longe de se igualar a 2014. É uma pena, pois este setor é um
dos que mais emprega a baixa renda.
A crise se deve a mudanças sociais. A migração urbana diminuiu. Temos taxas de
urbanização e de natalidade iguais a dos países desenvolvidos. Mas temos um
passivo habitacional qualitativo enorme que só pode ser superado com a
urbanização e reciclagem habitacional das favelas. Poucas são as políticas neste
setor e empresas não investem em baratear a construção. Em “Um preço de m²
surpreendente”, A Tarde 11/03/17, mostrei que o preço do m² de um automóvel, com
materiais nobres e equipamentos de ponta, é a metade da construção civil, que
trabalha com tijolos de barro e arenoso.
No mercado de classe média falta planejamento, o que provoca o efeito sanfona e
o oferecimento de produtos inadequados. As incorporadoras ainda não
compreenderam que independente da classe, as famílias diminuíram, o trabalho
invadiu a casa e já não se almoça nela. Para venderem as empresas oferecem
fetiches de alta manutenção, como salas de malhação e festas, piscinas,
brincotecas e garagens com centenas de vagas para os residentes e visitantes,
quando só se usa metrô e Uber. Poucos são os moradores que curtem esses
equipamentos e muitos não têm como pagar o condomínio, onerando os demais e
promovendo o arruinamento precoce do prédio.
As imobiliárias continuam oferecendo apartamentos com 3 ou 4 suítes, lavabo, WC
e quarto de D. Maria para uma dona de casa que tem de trabalhar para ajudar o
marido e ainda lavar e engomar, esfregar os sanitários, fazer a janta, levar e
trazer as crianças na escola e caminhar com o cachorro. Quem apostou nesse tipo
de apartamento está trocando dinheiro. O mercado imobiliário na Bahia está no
interior, que ainda é muito rural, e se quiser crescer em Salvador tem que
oferecer projetos de MCMV de qualidade, com bons serviços e localização e não
aquelas casinhas de roedores em quermesses de caridade.
SSA: A Tarde, 18/11/2018