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“Milonga de Los Morenos”

  • 30 de Dezembro de 2018

Meu artigo “Revisitando a Argentina” (16/12) foi curtido por 83 leitores do Facebook, inclusive oito argentinos, de lá e daqui. A única discordância foi de um brasileiro, mas o Prof. Ramon Gutierrez afirmou: “Parece que hubieras estado viviendo aqui, porque has captado el estado de la cuestion”.

Interessante foi a pergunta formulada por Osvaldo Magalhães citando Leo Gerchmann em Los afro-argentinos, sobre o desaparecimento deles no país e os apartes de Carlos Pronzato e Nelson Cerqueira sobre a negritude do tango. É exagerado afirmar que há 200 anos os negros eram mais de 30% da população de Buenos Aires. Talvez este equivoco resulte do fato de terem entrado por Buenos Aires muitos escravos para as minas de Potosi, Bolívia. A Argentina nunca teve plantações de cana, tabaco ou algodão, como o Brasil, o Caribe e os EUA, mas teve escravos domésticos. Ainda hoje as domesticas são conhecidas como “mucamas”. Atualmente os afro-argentinos são cerca de 3 a 4% concentrados em Corrientes, Entre Rios e Missiones.

O antropólogo Daniel Schavelzon encontrou cerâmicas e objetos de culto vodu em Buenos Aires e sabe-se que existiu um mercado de escravos no Retiro. Ele assinala muitas vozes de origem africana no lunfardo, dialeto do porto de Buenos Aires, que mistura espanhol, italiano e português, como: mandinga, milonga, mina (mulher), mondongo (vísceras do boi), mucama, quilombo e tamango (tamanco), palavras de origem quimbundo, falado em Angola.

Muitos escravos morreram como “voluntários” nas guerras de independência (1808-1810) e do Paraguai (1864-1870). Borges, no poema que dá nome a este artigo, diz: “Alguien pensó que los negros/ no eran ni zurdos ni ajenos/ y se formó el Regimiento/ de Pardos y de Morenos… Más bravo que gallo inglés”. O primeiro presidente argentino, que resistiu á invasão inglesa de 1808 e lutou na Independência, Bernardino Rivadavia,1826-27, era mulato de cabelos crespos. Essas foram contribuições muito importantes a formação da nação argentina. Além dos mortos, muitos se exilaram no Uruguai, que libertou os escravos em 1842, dez anos antes da Argentina.

Escravos brasileiros fizeram o mesmo no fim da Guerra do Paraguai (1870) , pois o Brasil foi o último país a libertá-los, em 1888. A influência deles na comunidade negra uruguaia é evidente, com o candombe, ritual de coroação dos reis do Congo, semelhante à nossa congada e ao maracatu e o desfile de carnaval, que não existia na cultura hispânica. Esse é um episódio pouco estudado no Brasil.

Mas a maior contribuição dos negros à Argentina foi o tango, que teria origem no candombe, semente da milonga e essa do tango. Sua denominação é incerta, pode vir do tambor tangó ou tambó usado no candombe, originaria do Congo, onde significa encontro e festa, ou de influência brasileira com o verbo “tanger” ou tocar.

SSA: A Tarde de 30/12/18


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