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Retrato do Brasil em preto e branco

  • 13 de Janeiro de 2019

Segundo IBGE, em 2017 os 10% mais ricos do Brasil tinham 43,3% da renda nacional e os 10% mais pobres 0,7%. Segundo o site Desigualdade Mundial, coordenado pelo economista Thomas Piketty, 27,8% da renda, em 2015, estava nas mãos de 1% dos mais ricos no Brasil, primeiro lugar da desigualdade no mundo. De lá para cá a situação só piorou.

No último dia quatro o Jornal Nacional, edição das 20:30 hs, terminou com um sorriso dos seus apresentadores exaltando o mérito de um adolescente negro e paupérrimo de Brasília que recebeu um convite para jogar futebol nos EUA. A família vive do lixo numa toca de piso de terra coberta por restos de plásticos que não dá uma pessoa em pé. A mensagem subliminar era: “cada um pode vencer por seus méritos, não importa a exclusão”. Na mesma edição foi mostrada duas mulheres parindo, uma no chão e outra sobre um banco na espera de um hospital, sem médico ou enfermeira. Segundo sua direção os partos foram normais e os bebês e mães nunca passaram por perigo...

Isto num país que é a 8º economia mundial, maior exportador de proteínas, grãos, minério de ferro e detentor das maiores reservas de genes, de água potável, de petróleo e dispõe de US$ 380 bilhões de reservas cambiais. O problema do Brasil não é de desenvolvimento, senão de perversa distribuição da riqueza.

Não vou atribuir essa tragédia ao presidente Jair Messias, recém ungido nas urnas, nem a Temer ou Dilma. O apartheid no Brasil tem sua origem no século XVI. Duvido, porém, que a política neoliberal de seu apóstolo Paulo, possa liberar o nosso povo do cativeiro e devolver a terra prometida. Introduzido na década de 1980 na Inglaterra, EUA e Chile, o neoliberalismo pregando o estado mínimo, privatizações e o fim das políticas sociais, fez a fortuna das empresas, mas aumentou a concentração de renda, o desemprego e a pobreza nesses países.

Com a retórica de favorecer os países mais pobres, os EUA decretaram, em 1989, o Consenso de Washington imaginando que eles seriam os maiores favorecidos com a liberação do comercio internacional. O FMI, BIRD e BID impuseram a todo o mundo a nova cartilha. Os países pobres entraram em colapso e suas populações fogem da fome em manadas. Os que se beneficiaram foram os orientais: China, Correia do sul e Japão, países com boa infraestrutura e mão de obra.

Frustrados os EUA de Trump voltaram a impor sobretaxas aos produtos importados e criar barreiras físicas aos imigrantes. Sem políticas sociais e emprego o liberalismo explodiu nas ruas da Grécia, Espanha, Argentina e atualmente na França. Aplicado ao Brasil, cujas desigualdades beiram o ponto de ignição, essa política irá aumentar os conflitos no campo, favelas e ruas com assaltos, arrastões e saques. É esse modelo falido que vai nos integrar como nação?

SSA: A Tarde, 13/01/19


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