Artigos de Jornal
Retrato do Brasil em preto e branco
Segundo IBGE, em 2017 os 10% mais ricos do Brasil tinham 43,3% da renda
nacional e os 10% mais pobres 0,7%. Segundo o site Desigualdade Mundial,
coordenado pelo economista Thomas Piketty, 27,8% da renda, em 2015, estava nas
mãos de 1% dos mais ricos no Brasil, primeiro lugar da desigualdade no mundo. De
lá para cá a situação só piorou.
No último dia quatro o Jornal Nacional, edição das 20:30 hs, terminou com um
sorriso dos seus apresentadores exaltando o mérito de um adolescente negro e
paupérrimo de Brasília que recebeu um convite para jogar futebol nos EUA. A
família vive do lixo numa toca de piso de terra coberta por restos de plásticos
que não dá uma pessoa em pé. A mensagem subliminar era: “cada um pode vencer por
seus méritos, não importa a exclusão”. Na mesma edição foi mostrada duas
mulheres parindo, uma no chão e outra sobre um banco na espera de um hospital,
sem médico ou enfermeira. Segundo sua direção os partos foram normais e os bebês
e mães nunca passaram por perigo...
Isto num país que é a 8º economia mundial, maior exportador de proteínas, grãos,
minério de ferro e detentor das maiores reservas de genes, de água potável, de
petróleo e dispõe de US$ 380 bilhões de reservas cambiais. O problema do Brasil
não é de desenvolvimento, senão de perversa distribuição da riqueza.
Não vou atribuir essa tragédia ao presidente Jair Messias, recém ungido nas
urnas, nem a Temer ou Dilma. O apartheid no Brasil tem sua origem no século XVI.
Duvido, porém, que a política neoliberal de seu apóstolo Paulo, possa liberar o
nosso povo do cativeiro e devolver a terra prometida. Introduzido na década de
1980 na Inglaterra, EUA e Chile, o neoliberalismo pregando o estado mínimo,
privatizações e o fim das políticas sociais, fez a fortuna das empresas, mas
aumentou a concentração de renda, o desemprego e a pobreza nesses países.
Com a retórica de favorecer os países mais pobres, os EUA decretaram, em 1989, o
Consenso de Washington imaginando que eles seriam os maiores favorecidos com a
liberação do comercio internacional. O FMI, BIRD e BID impuseram a todo o mundo
a nova cartilha. Os países pobres entraram em colapso e suas populações fogem da
fome em manadas. Os que se beneficiaram foram os orientais: China, Correia do
sul e Japão, países com boa infraestrutura e mão de obra.
Frustrados os EUA de Trump voltaram a impor sobretaxas aos produtos importados e
criar barreiras físicas aos imigrantes. Sem políticas sociais e emprego o
liberalismo explodiu nas ruas da Grécia, Espanha, Argentina e atualmente na
França. Aplicado ao Brasil, cujas desigualdades beiram o ponto de ignição, essa
política irá aumentar os conflitos no campo, favelas e ruas com assaltos,
arrastões e saques. É esse modelo falido que vai nos integrar como nação?
SSA: A Tarde, 13/01/19