Artigos de Jornal
O Rio de Janeiro continua lindo...
A Cidade Maravilhosa, que ganhou esse qualificativo de Coelho Neto, em 1908,
foi cantada em marchinha como “cheia de encantos mil” por André Filho, em 1934,
e virou seu hino. Apesar da desigualdade e da repressão, Gilberto Gil no exilio
mandou Aquele Abraço, onde reconhecia que o Rio continuava lindo. Não obstante a
violência e a corrupção, que cresceram exponencialmente, podemos dizer que o Rio
continua sendo uma das cidades mais lindas do mundo.
Meu colega Assis Reis dizia que nem a especulação imobiliária conseguiu destruir
sua beleza e competir com seus maciços monumentais. Em 2012, a UNESCO reconheceu
sua implantação excepcional, declarando a cidade do Pão de Açúcar, do Corcovado,
da Floresta da Tijuca e da Praia de Copacabana, a primeira paisagem cultural
urbana do mundo. Para isso não bastou a natureza, mas também o trabalho de
arquitetos, urbanistas e paisagistas conciliando aqueles acidentes com o
desenvolvimento da cidade, com projetos como os parques Boa Vista e Lage, o
Passeio Público, o Jardim Botânico, o Aterro do Flamengo e o calçadão de
Copacabana de Burle Marx e a urbanização da Barra da Tijuca de Lúcio Costa.
Arquitetos dotaram-na ainda de numerosos monumentos públicos, como o Palácio
Gustavo Capanema, primeiro edifício em altura inspirado em Le Corbusier, o Museu
de Arte Moderna de Affonso Eduardo Reidy, o Sambódromo de Oscar Niemeyer e o
novo Museu do Amanhã de Calatrava. Pela contribuição desses profissionais, a
UNESCO declarou, no último dia 18, o Rio a primeira Capital Mundial da
Arquitetura. O Rio será também sede do Congresso Mundial de Arquitetos, da UIA,
em 2020.
Salvador tão rica de monumentos do passado é hoje extremamente pobre de
arquitetura. Isso se deve à insensibilidade de nossos governantes e empresários,
à pouca identidade de nossos cidadãos com a urbe, e ao sistema de seleção de
empresas para executarem projetos e obras públicas pelo menor preço. Na década
de 1970, seu centro antigo foi esvaziado das funções política, financeira e
habitacional, e hoje tem 1400 imóveis em ruina ou periclitantes, segundo a
Defesa Civil. Espaços públicos foram descaracterizados, como o Passeio Público,
a Praça Municipal com o Cemitério do Sucupira e a Avenida Paralela. Um
equipamento premiado, como o Centro de Convenções, foi abandonado para ser
vendido seu terreno.
Qualquer cidade que queira viver do turismo tem que ser um centro dinâmico de
cultura e não apenas um cenário do passado. O novo Centro Administrativo, que
esvaziou o Centro Antigo, não está integrado à cidade, nem tem nenhum edifício
que possa se chamar de monumento, embora tenha plataformas interessantes e uma
capelinha linda de Lelé. A quase única obra de arte pública ali existente, um
mural de Juarez Paraiso, com 180 m. de comprimento, está abandonado. Sem
presente não haverá história no futuro.
SSA: A Tarde de 27/01/2019
PS - Alguns caros leitores do meu último artigo, que confundem socialismo com
políticas sociais, ficaram irados quando demonstrei que o neoliberalismo do
livre comércio e do estado nanico tinha sido abandonado pelas grandes potências.
Três dias depois do artigo, a CE do euro, seguindo os EUA do dólar, anunciou
cotas para o aço brasileiro e na semana passada a Arábia Saudita, rainha do
petróleo. fez o mesmo com as penosas. Enquanto os ricos se fecham, o nosso
presidente afirma em Davos, que Trump, Macron e May filaram, que vai abrir ainda
mais o país para o comercio internacional. Estamos sempre defasados. Valei-me
Santa Bárbara!