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O Rio de Janeiro continua lindo...

  • 27 de Janeiro de 2019

A Cidade Maravilhosa, que ganhou esse qualificativo de Coelho Neto, em 1908, foi cantada em marchinha como “cheia de encantos mil” por André Filho, em 1934, e virou seu hino. Apesar da desigualdade e da repressão, Gilberto Gil no exilio mandou Aquele Abraço, onde reconhecia que o Rio continuava lindo. Não obstante a violência e a corrupção, que cresceram exponencialmente, podemos dizer que o Rio continua sendo uma das cidades mais lindas do mundo.

Meu colega Assis Reis dizia que nem a especulação imobiliária conseguiu destruir sua beleza e competir com seus maciços monumentais. Em 2012, a UNESCO reconheceu sua implantação excepcional, declarando a cidade do Pão de Açúcar, do Corcovado, da Floresta da Tijuca e da Praia de Copacabana, a primeira paisagem cultural urbana do mundo. Para isso não bastou a natureza, mas também o trabalho de arquitetos, urbanistas e paisagistas conciliando aqueles acidentes com o desenvolvimento da cidade, com projetos como os parques Boa Vista e Lage, o Passeio Público, o Jardim Botânico, o Aterro do Flamengo e o calçadão de Copacabana de Burle Marx e a urbanização da Barra da Tijuca de Lúcio Costa.

Arquitetos dotaram-na ainda de numerosos monumentos públicos, como o Palácio Gustavo Capanema, primeiro edifício em altura inspirado em Le Corbusier, o Museu de Arte Moderna de Affonso Eduardo Reidy, o Sambódromo de Oscar Niemeyer e o novo Museu do Amanhã de Calatrava. Pela contribuição desses profissionais, a UNESCO declarou, no último dia 18, o Rio a primeira Capital Mundial da Arquitetura. O Rio será também sede do Congresso Mundial de Arquitetos, da UIA, em 2020.

Salvador tão rica de monumentos do passado é hoje extremamente pobre de arquitetura. Isso se deve à insensibilidade de nossos governantes e empresários, à pouca identidade de nossos cidadãos com a urbe, e ao sistema de seleção de empresas para executarem projetos e obras públicas pelo menor preço. Na década de 1970, seu centro antigo foi esvaziado das funções política, financeira e habitacional, e hoje tem 1400 imóveis em ruina ou periclitantes, segundo a Defesa Civil. Espaços públicos foram descaracterizados, como o Passeio Público, a Praça Municipal com o Cemitério do Sucupira e a Avenida Paralela. Um equipamento premiado, como o Centro de Convenções, foi abandonado para ser vendido seu terreno.

Qualquer cidade que queira viver do turismo tem que ser um centro dinâmico de cultura e não apenas um cenário do passado. O novo Centro Administrativo, que esvaziou o Centro Antigo, não está integrado à cidade, nem tem nenhum edifício que possa se chamar de monumento, embora tenha plataformas interessantes e uma capelinha linda de Lelé. A quase única obra de arte pública ali existente, um mural de Juarez Paraiso, com 180 m. de comprimento, está abandonado. Sem presente não haverá história no futuro.

SSA: A Tarde de 27/01/2019

PS - Alguns caros leitores do meu último artigo, que confundem socialismo com políticas sociais, ficaram irados quando demonstrei que o neoliberalismo do livre comércio e do estado nanico tinha sido abandonado pelas grandes potências. Três dias depois do artigo, a CE do euro, seguindo os EUA do dólar, anunciou cotas para o aço brasileiro e na semana passada a Arábia Saudita, rainha do petróleo. fez o mesmo com as penosas. Enquanto os ricos se fecham, o nosso presidente afirma em Davos, que Trump, Macron e May filaram, que vai abrir ainda mais o país para o comercio internacional. Estamos sempre defasados. Valei-me Santa Bárbara!


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