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O atentado anunciado à Pacha Mama

  • 21 de Abril de 2019

Há alguns anos assisti em São Paulo a conferência de um ambientalista que demonstrava que a agropecuária polui mais que as cidades. Nisso somos campeões: 1º lugar em desmatamento e queimadas, 1º no uso de pesticidas e fertilizantes que poluem os rios e o mar, 1º no rebanho de gado e no desperdício de água na irrigação por saturação que saliniza a terra. Pacha Mama na cultura quíchua, dos ameríndios andinos, representa o universo, o mundo, o tempo, o local e a Mãe-Terra, o meio ambiente assediado.

Sim, o gado peidando metano, que é 20 vezes pior para o efeito estufa que o CO2, representa 18% da poluição atmosférica mundial, contra 13,5% de CO2 dos automóveis e termoelétricas. Temos o maior rebanho do mundo com 215 milhões de bovinos, e 27,5 milhões de ovinos e caprinos. Somando o metano do gado e o CO2 das queimadas na Amazônia e no Cerrado somos o sétimo país mais poluidor atmosférico. A consequência são as mudanças climáticas cada vez mais rigorosas, que matam e destroem cidades inteiramente despreparadas. Desde o século XVIII a Europa controla as enchentes de seus rios com diques e comportas. Recife e Cachoeira são exemplos que comprovam este fato.

Somos também um dos maiores produtores minerais, especialmente de ferro e bauxita, que são exportados sem valor agregado. Voltamos a economia da colônia: minérios e produtos agrícolas. O impacto das mineradoras é terrível. Existem cerca de 839 barragens precárias de mineração no país e apenas 425 cadastradas no Programa Nacional de Segurança de Barragens, 200 delas de alto risco. Cerca de 51% estão em Minas, 16% no Pará e o restante em outros estados. Cerca de 88 são barragens de cascalho e lama condenadas em todo mundo. Mariana, Brumadinho e Novo Oriente, em Rondônia, que romperam, eram desse tipo.

Há um tipo de mineração invisível. É a de salgema, que forma cavernas enormes no subsolo e podem desabar em crateras como a de Matarandiba, em Vera Cruz Itaparica, com 43m de profundidade, numa propriedade da Dow Química. Em Maceió já ocorreu um sismo de 2,5° Ritcher e o bairro do Pinheiro afunda, com 2.000 casas e 19.000 hab. O Serviço Geológico do Brasil elaborou um plano de evacuação e rotas de fugas. A UFRN não tem um laudo conclusivo, mas desconfia da exploração do salgema pela Braskem e o Ministério Público pediu o bloqueio de R$6.7 bilhões da empresa.

Em países hegemônicos não são permitidas represas à montante, exploração de salgema sob uma cidade e moradias em encostas instáveis. Aqui, esses crimes são considerados acidentes naturais e liberado o fundo de garantia para os que perderam tudo: parentes, a casa, os móveis e o carro. A Justiça é cega e os políticos surdos. São os adolescentes, como Greta Thunberg, e milhares em todo o mundo que lutam por seu direito à vida.

SSA: A Tarde de 21/04/2019


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