Artigos de Jornal
O atentado anunciado à Pacha Mama
Há alguns anos assisti em São Paulo a conferência de um ambientalista que
demonstrava que a agropecuária polui mais que as cidades. Nisso somos campeões:
1º lugar em desmatamento e queimadas, 1º no uso de pesticidas e fertilizantes
que poluem os rios e o mar, 1º no rebanho de gado e no desperdício de água na
irrigação por saturação que saliniza a terra. Pacha Mama na cultura quíchua, dos
ameríndios andinos, representa o universo, o mundo, o tempo, o local e a
Mãe-Terra, o meio ambiente assediado.
Sim, o gado peidando metano, que é 20 vezes pior para o efeito estufa que o CO2,
representa 18% da poluição atmosférica mundial, contra 13,5% de CO2 dos
automóveis e termoelétricas. Temos o maior rebanho do mundo com 215 milhões de
bovinos, e 27,5 milhões de ovinos e caprinos. Somando o metano do gado e o CO2
das queimadas na Amazônia e no Cerrado somos o sétimo país mais poluidor
atmosférico. A consequência são as mudanças climáticas cada vez mais rigorosas,
que matam e destroem cidades inteiramente despreparadas. Desde o século XVIII a
Europa controla as enchentes de seus rios com diques e comportas. Recife e
Cachoeira são exemplos que comprovam este fato.
Somos também um dos maiores produtores minerais, especialmente de ferro e
bauxita, que são exportados sem valor agregado. Voltamos a economia da colônia:
minérios e produtos agrícolas. O impacto das mineradoras é terrível. Existem
cerca de 839 barragens precárias de mineração no país e apenas 425 cadastradas
no Programa Nacional de Segurança de Barragens, 200 delas de alto risco. Cerca
de 51% estão em Minas, 16% no Pará e o restante em outros estados. Cerca de 88
são barragens de cascalho e lama condenadas em todo mundo. Mariana, Brumadinho e
Novo Oriente, em Rondônia, que romperam, eram desse tipo.
Há um tipo de mineração invisível. É a de salgema, que forma cavernas enormes no
subsolo e podem desabar em crateras como a de Matarandiba, em Vera Cruz
Itaparica, com 43m de profundidade, numa propriedade da Dow Química. Em Maceió
já ocorreu um sismo de 2,5° Ritcher e o bairro do Pinheiro afunda, com 2.000
casas e 19.000 hab. O Serviço Geológico do Brasil elaborou um plano de evacuação
e rotas de fugas. A UFRN não tem um laudo conclusivo, mas desconfia da
exploração do salgema pela Braskem e o Ministério Público pediu o bloqueio de
R$6.7 bilhões da empresa.
Em países hegemônicos não são permitidas represas à montante, exploração de
salgema sob uma cidade e moradias em encostas instáveis. Aqui, esses crimes são
considerados acidentes naturais e liberado o fundo de garantia para os que
perderam tudo: parentes, a casa, os móveis e o carro. A Justiça é cega e os
políticos surdos. São os adolescentes, como Greta Thunberg, e milhares em todo o
mundo que lutam por seu direito à vida.
SSA: A Tarde de 21/04/2019