Artigos de Jornal
Evasão de talentos e dependência
A guerra geopolítica e comercial se faz basicamente pelo domínio da ciência e
tecnologia. Foi assim que EUA, União Soviética, Alemanha e França se impuseram
como países centrais e periféricos como a China, Coreia do Sul e Índia estão
dando seu grande salto. Em 1999 estive no Museu de Tecnologia de La Villette, em
Paris, e numa exposição sobre a conquista espacial, Brasil e Índia estavam em pé
de igualdade. Naquele mesmo ano uma explosão misteriosa terminou o nosso sonho
espacial. Os indianos acabem de colocaram um satélite na lua.
O Brasil já desenvolveu grandes projetos tecnológicos em universidades federais
e estaduais, como a USP, em institutos de pesquisa, como a Fundação Oswaldo Cruz
e a Embrapa e grandes empresas, como a Petrobrás e Embraer. Como resultados
dessas pesquisas descobrimos o méson PI e o Pré-sal, desenvolvemos vacinas conta
doenças tropicais, o etanol automotivo, a exploração agrícola do cerrado e
aviões de ponta. Temos pesquisadores conceituados mundialmente, que colocaram o
Brasil na 32º posição num ranque de 60 países, segundo o Highlity Cited
Reasearchers.
Isto só foi possível graças a formação dada pelas universidades com o apoio da
Capes, CNPq e fundações estaduais de financiamento à pesquisa. O atual governo
reduziu em 30% o orçamento das universidades inviabilizando a pesquisa e acaba
de cortar 8.800 bolsas da Capes e 4.500 do CNPq. Sofremos o mesmo na ditadura.
Thales de Azevedo publicou, em 1968, “Evasão de talentos, desafios das
desigualdades” no qual alertava sobre as perdas que o Brasil sofria com a saída
de cientistas e artistas em busca de melhores condições de trabalho no exterior.
Estamos voltando a ser “um país essencialmente agrícola”, exportador de produtos
minerais e agrícolas sem valor agregado, como o cru do Pré-sal, ferro e bauxita,
que provocam tsunamis ambientais, a soja e o gado que desmatam e incendeiam o
cerrado e a Amazônia. Os acordos comerciais com os EUA e União Europeia vão
permitir a eles importar nossos produtos mais baratos e vender aqui seus
produtos e serviços de ponta sem pagar impostos, aumentando a nossa dependência
e acabando com o emprego. O setor privado foi desnacionalizado por Collor e FHC.
Já não temos industriais como Matarazzo, Antonio Ermírio de Morais, José
Mindlin, Olavo Setubal, nem novos, apenas agiotas, fazendeiros e grileiros.
Enquanto os EUA se defendem da concorrência externa estabelecendo cotas e
sobretaxas, nós abolimos impostos de importação, vendemos o que resta de
indústria nacional, como a Embraer e nossas refinarias e desestimulamos a
pesquisa. Só falta Dom Paul Guedes voltar a 1785 e reeditar o alvará de D. Maria
I de Portugal que proibia se instalar fábricas e manufaturas no Brasil, salvo de
baeta para sacos e vestir escravos.
SSA: A Tarde, 22/09/19