Artigos de Jornal


Evasão de talentos e dependência

  • 22 de Setembro de 2019

A guerra geopolítica e comercial se faz basicamente pelo domínio da ciência e tecnologia. Foi assim que EUA, União Soviética, Alemanha e França se impuseram como países centrais e periféricos como a China, Coreia do Sul e Índia estão dando seu grande salto. Em 1999 estive no Museu de Tecnologia de La Villette, em Paris, e numa exposição sobre a conquista espacial, Brasil e Índia estavam em pé de igualdade. Naquele mesmo ano uma explosão misteriosa terminou o nosso sonho espacial. Os indianos acabem de colocaram um satélite na lua.

O Brasil já desenvolveu grandes projetos tecnológicos em universidades federais e estaduais, como a USP, em institutos de pesquisa, como a Fundação Oswaldo Cruz e a Embrapa e grandes empresas, como a Petrobrás e Embraer. Como resultados dessas pesquisas descobrimos o méson PI e o Pré-sal, desenvolvemos vacinas conta doenças tropicais, o etanol automotivo, a exploração agrícola do cerrado e aviões de ponta. Temos pesquisadores conceituados mundialmente, que colocaram o Brasil na 32º posição num ranque de 60 países, segundo o Highlity Cited Reasearchers.

Isto só foi possível graças a formação dada pelas universidades com o apoio da Capes, CNPq e fundações estaduais de financiamento à pesquisa. O atual governo reduziu em 30% o orçamento das universidades inviabilizando a pesquisa e acaba de cortar 8.800 bolsas da Capes e 4.500 do CNPq. Sofremos o mesmo na ditadura. Thales de Azevedo publicou, em 1968, “Evasão de talentos, desafios das desigualdades” no qual alertava sobre as perdas que o Brasil sofria com a saída de cientistas e artistas em busca de melhores condições de trabalho no exterior.

Estamos voltando a ser “um país essencialmente agrícola”, exportador de produtos minerais e agrícolas sem valor agregado, como o cru do Pré-sal, ferro e bauxita, que provocam tsunamis ambientais, a soja e o gado que desmatam e incendeiam o cerrado e a Amazônia. Os acordos comerciais com os EUA e União Europeia vão permitir a eles importar nossos produtos mais baratos e vender aqui seus produtos e serviços de ponta sem pagar impostos, aumentando a nossa dependência e acabando com o emprego. O setor privado foi desnacionalizado por Collor e FHC. Já não temos industriais como Matarazzo, Antonio Ermírio de Morais, José Mindlin, Olavo Setubal, nem novos, apenas agiotas, fazendeiros e grileiros.

Enquanto os EUA se defendem da concorrência externa estabelecendo cotas e sobretaxas, nós abolimos impostos de importação, vendemos o que resta de indústria nacional, como a Embraer e nossas refinarias e desestimulamos a pesquisa. Só falta Dom Paul Guedes voltar a 1785 e reeditar o alvará de D. Maria I de Portugal que proibia se instalar fábricas e manufaturas no Brasil, salvo de baeta para sacos e vestir escravos.

SSA: A Tarde, 22/09/19


Últimos Artigos