Artigos de Jornal
Não basta ser legal, deve parecer transparente
Quando fazia doutorado em Roma circulava uma piada. Através de prelados
influentes, um empresário norte americano conseguiu ser recebido pelo papa a
portas fechadas. Após uns quinze minutos, o bonachão João Paulo II expulsava aos
gritos o gringo. Um assessor quis saber o que acontecera. E o papa ainda
espumando de indignação, disse: ele me prometeu doar milhões de dólares á Igreja
se eu baixasse uma encíclica trocando o “Amém” do Padre Nosso e da Ave Maria,
por “Beba Coca Cola”. Propostas semelhantes são aceitas nesta Bahia dos absurdos
narrados por Octávio Mangabeira.
A partir de 2010, o Estado investiu R$ 373 milhões (63%) na PPP das nebulosas
construtoras Odebrecht e OAS para a reconstrução da Fonte Nova e assinou
promissórias para pagar durante 15 anos uma conta anual que atualmente é de
R$168 milhões. Estima-se que vamos pagar R$1,6 bilhão pela arena. Trocou-se um
parque olímpico com ginásio, piscinas e pistas de atletismo por um estádio de
futebol com capacidade da metade do anterior. Mas não bastava só isso, o “Amém”
ao grande governador Mangabeira teria que ser trocado pelo apelo “Beba Itaipava!”.
O primeiro palácio dos governadores do Brasil está na mira para ser alienado e
transformado em um hotel. Será seu segundo bombardeio em um século. Outros
equipamentos públicos localizados em pontos valorizados da cidade estão à venda,
como o Palácio dos Esportes, na Praça Castro Alves, e a antiga sede da SAER,
atual Embasa, no início da ladeira de São Bento, e o Hospital Santa Terezinha,.
No último dia 27, o Governador do Estado sancionou lei autorizando a venda do
Colégio Odorico Tavares, no hipervalorizado Corredor da Vitória. Outros
equipamentos públicos, com localização privilegiada, foram ou estão sendo
desativados para eventual venda, como o antigo Centro de Convenções (153.000 m²)
e a Rodoviária, que irá para Águas Claras, junto a Simões Filho. Desde a gestão
passada se fala na venda das sedes do Detran e do Desenbahia, na Av. Bonocô,
para o mercado imobiliário.
Ora, nada disso ocorre por acaso. É uma política clara de financiamento de
projetos megalomaníacos, como a polêmica ponte SSA-Itaparica, com a conhecida
prática de engorda de imóveis para o abate por melhor preço. Não importa que a
Bahia tenha ficado sem um centro de convenções durante cinco anos, que o
primeiro palácio de governo do país seja convertido em hospedaria, que moradores
da RMS e do interior, inclusive aqueles que fazem hemodiálise, tenham que
realizar três transbordos – ônibus, metrô e taxi - com malas, mochilas e
bengalas para chegar a um hospital. E que seja alienado um dos melhores colégios
do Estado, com 25 anos de tradição, em benefício de um condomínio de luxo.
Alunos, professores e a comunidade protestam, mas o setor imobiliário agradece.
SSA: A Tarde, 09/02/2020