Artigos de Jornal


Não basta ser legal, deve parecer transparente

  • 09 de Fevereiro de 2020

Quando fazia doutorado em Roma circulava uma piada. Através de prelados influentes, um empresário norte americano conseguiu ser recebido pelo papa a portas fechadas. Após uns quinze minutos, o bonachão João Paulo II expulsava aos gritos o gringo. Um assessor quis saber o que acontecera. E o papa ainda espumando de indignação, disse: ele me prometeu doar milhões de dólares á Igreja se eu baixasse uma encíclica trocando o “Amém” do Padre Nosso e da Ave Maria, por “Beba Coca Cola”. Propostas semelhantes são aceitas nesta Bahia dos absurdos narrados por Octávio Mangabeira.

A partir de 2010, o Estado investiu R$ 373 milhões (63%) na PPP das nebulosas construtoras Odebrecht e OAS para a reconstrução da Fonte Nova e assinou promissórias para pagar durante 15 anos uma conta anual que atualmente é de R$168 milhões. Estima-se que vamos pagar R$1,6 bilhão pela arena. Trocou-se um parque olímpico com ginásio, piscinas e pistas de atletismo por um estádio de futebol com capacidade da metade do anterior. Mas não bastava só isso, o “Amém” ao grande governador Mangabeira teria que ser trocado pelo apelo “Beba Itaipava!”.

O primeiro palácio dos governadores do Brasil está na mira para ser alienado e transformado em um hotel. Será seu segundo bombardeio em um século. Outros equipamentos públicos localizados em pontos valorizados da cidade estão à venda, como o Palácio dos Esportes, na Praça Castro Alves, e a antiga sede da SAER, atual Embasa, no início da ladeira de São Bento, e o Hospital Santa Terezinha,.

No último dia 27, o Governador do Estado sancionou lei autorizando a venda do Colégio Odorico Tavares, no hipervalorizado Corredor da Vitória. Outros equipamentos públicos, com localização privilegiada, foram ou estão sendo desativados para eventual venda, como o antigo Centro de Convenções (153.000 m²) e a Rodoviária, que irá para Águas Claras, junto a Simões Filho. Desde a gestão passada se fala na venda das sedes do Detran e do Desenbahia, na Av. Bonocô, para o mercado imobiliário.

Ora, nada disso ocorre por acaso. É uma política clara de financiamento de projetos megalomaníacos, como a polêmica ponte SSA-Itaparica, com a conhecida prática de engorda de imóveis para o abate por melhor preço. Não importa que a Bahia tenha ficado sem um centro de convenções durante cinco anos, que o primeiro palácio de governo do país seja convertido em hospedaria, que moradores da RMS e do interior, inclusive aqueles que fazem hemodiálise, tenham que realizar três transbordos – ônibus, metrô e taxi - com malas, mochilas e bengalas para chegar a um hospital. E que seja alienado um dos melhores colégios do Estado, com 25 anos de tradição, em benefício de um condomínio de luxo. Alunos, professores e a comunidade protestam, mas o setor imobiliário agradece.

SSA: A Tarde, 09/02/2020


Últimos Artigos