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Dona Maria I, a Rainha Louca

  • 23 de Fevereiro de 2020

Maria Francisca Isabel Josefa Antonia Gertrudes Rita Joana de Bragança foi supostamente a primeira rainha de Portugal. Nasceu em 1734 em Lisboa recebeu, em 1750, os títulos de Princesa do Brasil e Duquesa de Bragança, casou-se com seu tio Pedro III, em 1760, viveu oito anos no Brasil e aqui foi enterrada. Foi uma figura bizarra. Assumiu o trono em 1777 e promoveu a Viradeira, o desmonte da política do primeiro ministro Marquês de Pombal de fortalecimento de Portugal. Seu governo obedeceu a três diretrizes: reparar as “ofensas” a Deus, especialmente a expulsão dos jesuítas de Portugal e Brasil, moralizar a vida pública e fomentar o progresso. Tal política resultou na perda do controle do Estado sobre muitas áreas, retorno da influencia das corporações religiosas e da alta nobreza do país.

Fez tratado de comércio com a Prússia, em 1789, a potencia econômica da época, e como consequência baixou em 1785 alvará impondo pesadas restrições à atividade industrial no Brasil. Ainda na área diplomática deu asilo a aristocratas fugidos da Revolução Francesa. Sob seu reinado ocorreu a violenta repressão à tentativa de independência do Brasil com o enforcamento de Tiradentes, em 1792. Mas fez coisas positivas em Lisboa, como a criação da Real Biblioteca Pública e Real Academia de Ciências.

Muito religiosa, vivia obcecada com as penas eternas que o pai, D. José I, estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a Pombal perseguir os jesuítas. Perdeu completamente o juízo com a morte do marido e filho entrando para a história como “A Rainha Louca”. Seus surtos se agravaram em 1792, quando seu filho, o futuro Dom João VI, passou a administrar os assuntos do Estado e assumiu como Regente em1799. Com a fuga da Família Real de Portugal em 1808 devido à invasão napoleônica, Dona Maria veio contrariada para o Brasil onde morreu no Rio de Janeiro, em 1816. Esse não é um caso isolado.

A história registra inúmeros governantes loucos: truculentos, histriônicos e hilários. Podemos citar entre os mortos: Caligula (37-41 dC) e Lucio Aurélio Cômodo (161-192 dC) em Roma, Justino II de Constantinopla (520-578 dC), Carlos VI da França (1368-1422), Maria I da Inglaterra, ou Mary Bloody, a Sanguinária (1516-1558), Ivan Terrível da Rússia (1530-1584), George III da Inglaterra (1738-1820), Constantino VII da Dinamarca 1776-1808), Hitler da Alemanha (1934-1945), Papa Doc do Haiti (1957-971), Idi Amim de Uganda (1971-1979) e Karadzic e Milosovic (1991-1995) da ex-Iugoslávia. Muitos deles governaram por vários anos manipulados por gurus e ministros.

A Bahia homenageou Dona Maria I com a criação em 1799, no município de Jacobina, da Vila Nova da Rainha, atual cidade de Senhor do Bonfim, e mais recentemente com o delicioso livro de crônicas de Guido Guerra sobre a cidade em que ele passou a adolescência, “Vila Nova da Rainha Doida”.

SSA: A Tarde, 23/02/2020


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