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Avenida Vale do Canela

  • 03 de Dezembro de 1966

Atendendo solicitação da Superintendência de Urbanismo da capital, SURCAP, desenvolvemos o esquema de conexão das avenidas do Contôrno e Vale do Canela constante do anteprojeto apresentado por nós, em companhia da Arq. Arilda de Sousa, ao Concurso para Remodelação do Campo Grande patrocinado pela Prefeitura Municipal. As linhas mestras do projeto estão descritas no Memorial Técnico que abaixo reproduzimos:

Introdução

Com a realização da Avenida Vale do Canela e iminente conclusão do Túnel Américo Simas e acessos, entrará em funcionamento a segunda concêntrica do Plano Diretor da Cidade do Salrador. Seu funcionamento será de imediato precário, uma vez que as ruas. J. J. Seabra e Djalma Dutra não têm condições para suportar o caudal de tráfego que se processará nessas vias. Seu funcionamento só se normalizará com a realização da Avenida Vale de Nazaré.
O elevado custo das desapropriações e a remota ocupação do vale do Camarajipe fazem da segunda concêntrica a mais importante via de triagem, no atual estágio de desenvolvimento urbano de Salvador. Reune esta concêntrica, além do mais, grande acervo paisagístico, que covenientemente tratado tornará essa via uma das mais aprazíveis da cidade. Elevando-se ao longo da escarpa, através da avenida do Contorno, ela possibilita a visão de toda a baía e do pôrto de Salvador atingindo em séguida o Vale do Canela aonde corre ao longo do Campus Universitário para contornar as águas do Dique do Tororó e voltar ao pôrto através do grotão de Nazaré.

Sistema viário

A Avenida Vale do Canela está em parte executada, faltando apenas ser conectada à Avenida Centenário e à Avenida de Contôno. Diante da função eminentemente de triagem da segunda concêntrica, reveste-se da maior importância os acessos a essa avenida, que não deverão perturbar o fluxo da mesma. No Campo Grande, os estudos indicaram a conveniência de realizarmos as ligações em níveis diferenciados dispostas em monobloco, o que permitirá alcançar a segunda concêntrica em qualquer direção sem cruzamentos. Da maior importância é a ligação Avenida Vale do Canela / Praça Dr. Páterson. Este acesso lígará os bairros de Graça, Barra Avenida e Barra ao Comércio e outras zonas da Cidade sem utilizar o já conjestionado Corredor da Vitória. Além dessa vantagem tal ligação livrará a Universidade de ser cruzada por tráfego urbano pesado, voltando seu viaduto a ser uma ligação interna entre as duas vertentes do Campus Universitário.
O entroncamento da Avenida Vale do Canela com a Centenário desempenhará papel importante na distribuição do tráfego. Estudamos a ligação deste ponto com o sistema de vias de cumeadas, isto é, a ligação Praça dos Reis Católicos / Rua Leovigildo Filgueiras. Do Canela foi também prevista uma descida para o vale. A Avenida Vale do Canela possuirá duas pistas de alta velocidade com super-elevações centripetas separadas por um canteiro central de 18 metros, o que permite retôrnos e trocas de mãos sem conflitos. Duas pistas laterais de baixa velocidade atenderão ao tráfego local e saídas de garagens.
O canteiro central será gramado (Hyppeastrum equestre, Herb) e nas margens da vala serão criadas faixas de vegetação densa e baixa constituída de Pandanus Sanderit (Hort) e Xanthosoma Sagittaefólium (Sckot) que previnirá contra ofuscamento pelos faróis na pista oposta. Cassias Grandis , arvores de grande porte, protegerão o estacionamento e pista de baixa velocidade dos veículos velozes das faixas centrais. Nesta posição as cássias poderão crescer livres das fachadas e redes áreas de distribuição de energia, abrandando com suas sombras a aridez das pistas de asfalto e colorindo de rosa o vale nos meses de floração.

Urbanização

O triângulo delimitado pela Avenida Vale do Canela e acessos ao Campo Grande deverá ter sua flora preservada constituindo um parque aonde poderá ser instalada uma unidade educacional ou museu desde que sua ocupação não exceda 25% da referida área. Seria de desejar que as duas encostas do vale fossem desapropriadas e transformadas em uma faixa verde que se estenderia desde o Campus Universitário até o Passeio Público, fundindo-se ao Campo Grande e terrenos em torno do Forte de São Pedro. Dentro desta faixa apenas estrutura como o Palácio da Aclamação, o Forte de São Pedro, o Hotel da Bahia, e Assembleia Legislativa formando um “belvedere” sobre o vale.
Em caso de impossibilidade da desapropriação daquelas encostas será necessário criar uma legislação específica referente a urbanização daquela área. Esta legislação se torna imperativa uma vez que a legislação atual não define o gabarito de altura no setor SR-1 para terrenos situados abaixo da cota 60. Com a fixação desse gabarito será conveniente definir também a taxa de ocupação e dimensões mínimas dos lotes compatíveis com o mesmo.
Pelos estudos que realizamos seria conveniente fixar o limite máximo de altura na cota 73 sem nenhum escalonamento conforme o gabarito anéxo. Com um gabarito desse porte e tendência para construção de conjuntos de habitações em altura, que se manifesta no Canela e na Vitória, os lotes nessa área não podem ter as dimensões dos lotes destinados a casas individuais. É necessário estabelecer como exigência mínima para lotes situados na avenida de vale, ou à margem de seus acessos: a área mínima de 1.100 m² e frente de 30m. Considerando que se trata de prédios de habitação coletiva onde as áreas de playground devem ser proporcionais a população infantil e considerando, ainda, a forte acidentação do terreno, julgamos que a taxa de ocupação não deve exceder 40% para tais prédios. O coeficiente de utilização neste caso é aproximadamente o mesmo do resto do setor SR-1 pois seu maior gabarito de altura compensa uma menor taxa de ocupação. Os recuos foram fixados em 6m. ao longo de todo a avenida Vale do Canela e 10 a 12m. na ligação Praça dos Reis Católicos /Rua Leovigildo Filgueiras, em consequência dos cortes e aterros ali necessários.

SSA: A Tarde, 03/12/1966


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