Artigos de Jornal


A reengenharia e o futuro do trabalho

  • 17 de Novembro de 2019

Em 1914 o inventor da linha de montagem e produção em massa de carros, o polêmico Henry Ford, resolveu pagar cinco dólares ao dia, mais que o dobro do salário mínimo pago pela indústria americana, e reduzir a jornada de trabalho semanal para cinco dias. Para alguns, ele foi o pioneiro do “capitalismo do bem estar” (?), para outros, um empresário esperto que provocou uma revolução no mercado de trabalho americano para permitir que milhões de industriários pudessem comprar e difundir seu objeto de desejo nos finais de semana. Assim ele vendeu, na década de 20 um terço dos carros do mundo

Na quarta revolução industrial que estamos vivendo, está ocorrendo o oposto. A palavra de ordem do empresariado é fazer a reengenharia de suas empresas com as novas ferramentas digitais ou, em outras palavras, demitir empregados. Isso cria um contrassenso: produzir mais para um número de consumidores cada vez menor. Os teóricos do capitalismo não são bobos. Na ultima reunião do Fórum de Davos, no inicio deste ano, eles apresentaram um relatório assustador sobre o mercado de trabalho mundial. Pesquisa do Instituto Tinbergen, da Holanda, revela que 25% dos trabalhadores de todo o mundo, está insatisfeito com o que faz. Cerca de 17% afirmam ter dúvidas da serventia do seu trabalho. A pesquisa foi feita em 47 países e ouvidas 100.000 pessoas.

Segundo o estudo, mais de metade das tarefas de trabalho serão executadas por máquinas nos próximos sete anos, contra os 29% atuais. Mas o relatório é otimista e calcula que 133 milhões de novas vagas vão aparecer até 2022, quase o dobro das 75 milhões que desaparecerão. O relatório não explica como chegou a esse número, nem como as vagas serão distribuídas no mundo.

No mesmo Forum, o economista Rutger Bregman, autor de "Utopia para realistas" foi convidado a explicar suas ideias. Ele defende a criação de um salário mínimo universal que permita às pessoas tentarem buscar o trabalho dos seus sonhos. De alguma forma ele está repetindo a fórmula de Ford para viabilizar a produção capitalista. "Na medida em que os negócios adotam novas tecnologias, muitos empregos, como vemos hoje, deixarão de existir e outros novos devem surgir. E no meio dessa mudança tumultuada, temos a oportunidade de redefinir por completo o significado do trabalho e assim fazer uma grande diferença para a sociedade".

Há muitas duvidas de como isto poderia funcionar, mas Bregman acredita que o fato de ser convidado para Davos significa que esta já não é mais considerada uma ideia de lunático. Ele afirma que ao longo da história a automação nunca significou desemprego em massa. "Não devemos jamais subestimar o poder do capitalismo de criar novos empregos inúteis para a sociedade. Teoricamente é possível que vamos todos nos ajustar, fingindo que trabalhamos".

SSA: A Tarde, 17/11/2019


Últimos Artigos