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Uma lenda chamada Maradona
Pelé tem razão, Diego Armando Maradona era uma lenda. Engana-se quem pensa que o esporte é apenas uma atividade física. Atletas de pouca compleição brilharam no futebol, como o próprio Maradona (1,65m), Romário (1,67) e Garrincha (1,69 m), que tinha as pernas tortas. No futebol a inteligência está no drible ou em antever as jogadas e se colocar na posição para finalizar o ataque. Garrincha foi outro gênio no drible. Ele dominava psicologicamente o adversário, a ponto dos espanhóis gritarem olé, como quando o toureiro imobiliza o miúra, cego.de raiva, e dá as costas a ele.
A lenda de Maradona se transformou em idolatria. Maradona não era santo, senão um deus grego, com virtudes e defeitos. Muitos argentinos colocavam a imagem de Maradona entre a Virgem e São José, no nicho da família. Para uns poucos ele era mais que um deus. Os portenhos são megalomaníacos, se gabam de ter uma das avenidas mais largas do mundo, a 9 de Julho, com 170 m de largura, primeiro metrô do Hemisfério Sul, de 1913, e o único magazine Harolds fora da Inglaterra. Ouvi de um argentino uma das histórias mais fantásticas dessa mania de grandeza.
Como aconteceu com o Chapecoense, há quatro anos, a Seleção Argentina sofreu um acidente de avião e morreram quase todos os jogadores, inclusive os reservas e a Comissão Técnica. Ao chegarem ao céu, São Pedro lamentou a morte de todos, deu as boas vindas, e disse: “Vocês argentinos têm uma estrela, o nosso Departamento de Esportes já tinha programado um jogo espetacular para hoje, entre as Seleções do Mundo e da Argentina, de todos os tempos”. Apontou para o estádio e eles foram caminhando. O estádio, envolto em uma névoa lindíssima, estava repleto de espectadores.
Um guia os esperava e havia reservado um camarote especial para os argentinos ficarem juntos. Os alto-falantes anunciaram o inicio da partida e pediram uma salva de palmas para os visitantes, que foram saudados de pé. Em homenagem a eles, foi tocado o réquiem de Mozart, enquanto uma revoada de anjos evoluiu sobre o estádio e foi se empoleirar em fila indiana em volta ao gramado. Os alto-falantes voltaram a anunciar que em primeiro lugar entraria em campo a seleção argentina. Sob fortes aplausos saíram do túnel os jogadores acompanhados de anjinhos para fazerem a volta olímpica. Os visitantes começaram a identificar os antigos jogadores do Boca Juniors, do River Plate, do Estudiantes, do Lanus e do Belgrano.
Mas não conseguiram reconhecer um velhinho barbudo que na frente do cortejo fazia embaixadas e malabares excepcionais. Pediram ao capitão para se informar com o guia quem era aquele jogador. O capitão ficou com vergonha, mas debaixo da pressão dos companheiros fez a pergunta. O guia surpreso comenta: “Como vocês não conhecem o velhinho? Aquele é o Pai Eterno, mas se crê Maradona”.