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A Guerra-Fria já não é mais aquela II

  • 03 de Abril de 2022

Com esse mesmo título publiquei, em 05/06/2022, em que previa: “A disputa não é mais ideológica, senão estratégica e econômica. A Rússia herdou da União Soviética um enorme arsenal militar e os Estados Unidos não desativaram o seu. Um dos focos deste conflito é a Ucrânia [...] O equilíbrio de forças assegurou meio século de paz tensa, com confrontações na Coreia e no Vietnam. O alardeado apocalipse atômico serviu para as duas superpotências imporem seu domínio sobre seus parceiros e reprimirem seus anseios de liberdade e desenvolvimento”. O Cone Sul conheceu esta situação nas décadas de 60 e 70 e amarga, até hoje, a condição neocolonial de produtor de commodities sem valor agregado e subemprego. 

A Guerra-Fria agora é financeira, cibernética, midiática e pós-nuclear. Nos últimos 30 anos, as armas, inclusive de destruição em massa, evoluíram muito, desenvolvidas pelos EUA, Rússia, China e Coreia do Norte. A bomba atômica deixou de ser um instrumento de dissuasão e se transformou em arma real tática. Novos mísseis intercontinentais hipersônicos de alta precisão são armas indefensáveis. A inteligência artificial foi incorporada ao arsenal militar com tanques autônomos, metralhadoras com sensores de identificação facial, drones israelenses que entram por janelas e Cruiser multialvos.  

Essas armas sugerem que poderíamos ter guerras sem soldados, apenas estrategistas realizando games bélicos. Mas dificilmente um país aceitaria se render enquanto houvesse um só franco-atirador. É o que poderá acontecer na Ucrânia e ocorreu no sertão baiano, em Canudos, que Vargas Llosa chamou de A Guerra do fim do mundo. Aquelas são as novas armas de dissuasão que dividirão novamente o mundo. 

Esta crise é muito semelhante a dos mísseis em Cuba, de1962, que foi resolvida diplomaticamente sem um tiro por dois presidentes responsáveis: Kennedy e Khrushchov e não por dois belicistas como Putin e Biden. As ameaças e contra-ameaças dos dois só levam a uma 3ª Guerra.  

A da Ucrânia terminará em breve com a vitória da Rússia, que com seu arsenal nuclear neutralizou a OTAN. Mas ela deu origem a uma nova guerra entre o Ocidente e o Oriente. Não por acaso a Coreia do Norte lançou, recentemente, um foguete intercontinental que poderia atingir os EUA e os chineses testaram um míssel hipersônico que deu a volta ao globo, segundo os EUA. Com esta disputa burra, a China, agora presenteada com a Rússia, se fortalecerá. Esta é a maior ameaça às democracias ocidentais.  

As guerras-frias, com suas corridas armamentistas, são um prato-cheio para as superpotências com pretensões hegemônicas. Mas quando elas já não são apenas duas, como a última, a coisa se complica. Neste caso, a balança  pende perigosamente para o Oriente, “e qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água” (Chico). 

 


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