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Copa sim, destruição da fonte nova não
Há um provérbio alemão que diz que o diabo está nos detalhes. Ninguém de sã
consciência é contra a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e a
inclusão da Bahia neste mega-evento. O que o Instituto de Arquitetos do Brasil,
Departamento da Bahia é contra e já se pronunciou em seu boletim eletrônico de
13 de agosto passado, é ao detalhe de exclusão do Estádio da Fonte Nova deste
certame com a construção de um novo estádio na Paralela ou sua implosão para
construir no mesmo local outro estádio que não seria muito diferente do atual.
Nestas duas propostas ficam evidente os interesses econômicos que estão em jogo.
É o mesmo que foi feito com o chamado metrô de Salvador, que sob o pretexto de
que seria muito trabalhoso reforçar o leito, já pronto do, VLT (veiculo leve
sobre trilho) existente na Bonocô, se resolveu elevar toda a linha numa obra
custosíssima, sem fim, e que provocou um impacto ambiental irreversível na
cidade. Aquela é uma obra que está na contramão de todo que se está fazendo em
todo o mundo, ou seja, retirar estes elevados da cidade que só desvalorizam as
zonas por onde passam.
A Fonte Nova é um estádio que faz parte de um complexo esportivo completo com
ginásio de esporte, piscinas e quadras esportivas, que o habilita, com pequenas
adaptações, a receber competições esportivas mais complexas que a Copa do Mundo.
Estou me referindo a um futuro PAM ou mesmo a uma Olimpíada; por que não? A
Fonte Nova tem, além do mais, uma localização funcional e paisagística
excepcional, no centro da cidade, á margem de um espelho d’agua contornado por
pista de jogging e equipamentos de lazer. Seus altos índices de ocupação durante
os jogos se devem, em grande parte, a esta localização privilegiada. Dentre em
breve sua acessibilidade será reforçada por duas estações de metrô.
Além do mais, esta é uma obra que se incorporou a paisagem cultural da cidade.
Pelas mesmas razões, Barcelona reformou o estádio de Monjuic de 1929 para as
Olimpíadas de 1992 e Berlim fez o mesmo com o Estádio Olímpico, construído em
1936, para receber a Copa do Mundo de 2006. Aliás, o nosso estádio em ferradura
se inspirou, segundo seu autor, Arq. Diógenes Rebouças, nesse estádio. O que
precisa a Fonte Nova para receber uma Copa? Algumas rampas e elevadores para
deficientes, reciclagem de sanitários e bares, assentos mais confortáveis,
melhor aproveitamento dos espaços ociosos de sua estrutura e talvez o aumento de
sua área sombreada. Este poderia ser tema de um concurso de arquitetura
patrocinado pelo Estado. Desde já, o IAB-Ba se põe a disposição das nossas
autoridades para organizar tal concurso.
O dinheiro que se economizaria com esta reforma, ao invés da construção de um
novo estádio ou arena, poderia ser utilizado em obras de infra-estrutura que a
cidade carece para receber tal evento, como fez Barcelona em 1992, abrindo novos
acessos e ampliando seu aeroporto e parque hoteleiro. O que não é possível é que
se repita a farra do PAM no Rio de Janeiro, onde as obras custaram muitas vezes
mais do que o previsto, em beneficio de empresas privadas que se diziam
parceiras nesses investimentos.
Analisemos agora a segunda alternativa: um novo estádio na Paralela. Esta
avenida é um dos dois únicos acessos a Salvador e já hoje não da conta da
demanda de trafego do aeroporto e do crescimento da cidade em direção ao Litoral
Norte. Basta uma feira de carros ou de gado no parque agropecuário, um jogo no
Barrradão ou um show no Wet’n Wild para o acesso ao aeroporto ficar
comprometido. O que está previsto na Av. Paralela é um VLT, ou bonde moderno,
não um metrô. Estaríamos assim criando mais problema para a cidade que
melhorando sua acessibilidade.
Perante as autoridades da FIFA, a quem se atribuem tais exigências esdrúxulas, é
preciso bater per firme e dizer que não passa pela cabeça de nenhum grande
organizador de uma Copa do Mundo excluir a Bahia de um evento desse porte no
Brasil. A Bahia é por si só um destino turístico internacional. Eles dêem as
normas e nós baianos daremos a solução que mais convier à cidade. Basta de
subserviência.
SSA: A Tarde, 31/10/07