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Plano Diretor, o dia seguinte
Se hoje podemos chegar ao centro da cidade ou ir de bairro a bairro em certas
horas com relativa facilidade é porque tivemos na década de 1940 um PDDU que
estruturou a cidade com avenidas de vale. O sucesso do Plano EPUCS se deveu a
sua inovação técnica e ao pacto da sociedade de não ocupar os vales, o que
permitiu que ele fosse implantado, 25 anos depois. O modelo de estruturação
urbana do território estava pronto, bastando aplica-lo além do Camurugipe. Mas
os Prefeitos outorgados pela ditadura preferiram criar o centro Iguatemi e
privatizar os terrenos municipais, enquanto permitia, demagogicamente, a
ocupação desordenada do chamado Miolo, uma área estratégica, entre a BR-324 e a
Paralela. Hoje o Iguatemi é um nó cego e o Miolo um favelão sem esgoto nem
drenagem.
O que se esperava do novo PDDU era um projeto de futuro e um pacto das forças
econômicas e sociais que garantisse sua execução. O atual PDDU é um cheque em
branco, que não tem outro objetivo senão premiar o setor imobiliário. As
questões mais urgentes da cidade, como a redistribuição da renda e dos
investimentos e um plano de vias que facilitasse a mobilidade de todos, não são
contempladas no PDDU. Discute-se só gabarito. Não é verdade que a cidade vai
parar se eles não forem majorados. O setor imobiliário está experimentando uma
explosão com lançamentos multimilionários, que poderiam contribuir para diminuir
nossas desigualdades urbanas.
Como fazer isto? Elaborando um plano urbanístico participativo em que a mais
valia gerada por ele financie sua implantação e a melhor distribuição da riqueza
na cidade. Isto pode ser feito com as Operações Urbanas Consorciadas – OUC,
previstas no Estatuto das Cidades, ou seja, o poder público desapropria as áreas
por onde vão passar as novas vias estruturantes e as re-lotearia dentro de
padrões compatíveis com a verticalização possível, para que a sua revenda pague
a infra-estrutura a ser implantada. Vejamos o caso da ultima área pouco ocupada
entre as avenidas Otavio Mangabeira e Paralela, com 2,5 x 8,0 km. Imaginem esta
faixa com apenas dois acessos, ruelas internas sem saídas e lotes de 400 a 700
m2 ser ocupada por edifícios de 18 andares. Quem poderá viver ou circular nessa
Hong Kong tropical? Imaginem outro cenário, a abertura de uma terceira via
longitudinal com transporte de massa, ciclovias, praças e lotes capazes de
receberem conjuntos de edifícios afastados entre. Isto é possível com uma OUC.
Mas se permitirmos agora a verticulação sem nenhuma contrapartida, o que vamos
negociar depois? Este é o cenário do dia seguinte ao PDDU: vamos ter, ricos e
pobres, de perder mais horas no tráfego engarrafado e sentir a insegurança
crescente de uma cidade cada vez mais dividida e violenta. Salvador e nós
merecemos outro futuro.
SSA: A Tarde, 03/12/07