Artigos de Jornal
Impressões do Vietnam de um amigo
IMPRESSÕES DO VIETNAM DE UM AMIGO
Paulo Ormindo de Azevedo
“Em paralelo ao aparente caos social e econômico que domina os espaços urbanos, percebemos um povo simpático e, mesmo quando tentam vender os seus serviços, não são intrusivos ou insistentes. São polidos e extremamente disciplinados no desempenho das suas tarefas. Curiosamente, a indisciplina nas ruas e no tráfego, onde não há respeito às faixas de trânsito ou às calçadas, tomadas por lambretas e vendedores ambulantes, não se verifica nos ambientes internos; as instalações públicas, inclusive os banheiros, são impecáveis na limpeza e higiene. Os táxis são limpos e bem mantidos. Não há mendigo nas ruas. A aparência geral é de um povo sadio e magro, talvez beneficiado pela dieta vegetariana e medicina natural. À propósito, tanto em Cingapura como em Hanói, não consegui avistar uma farmácia no nível da rua; encontramos uma, estilo drugstore americano, no segundo subsolo de um shopping center.
Um passeio pelo Halong Bay é o máximo pela curiosidade da extensa área com penhascos imensos e cavernas gigantescas incrustadas nessas formações rochosas. O mausoléu de Ho Chi Minh é a maior representação do estilo comunista. Tudo grandioso e impecável. O Templo da Literatura (Van Mieu) evidencia a importância dada à educação desde o Século 11. Outros pontos de interesse incluem o chamado Hanoi Hilton, onde os prisioneiros americanos eram mantidos, o Pagode de um só Pilar, a casa de Tio Ho e a Ópera, projetada por Gustave Eiffel. A comida local é bastante exótica, mas existem alternativas ocidentais. Eu diria que a visita a Hanói é mais uma experiência do que um lazer. Mas se a decisão é ir até lá, que fique no Hotel Metrópole e se delicie com o magnífico breakfast e um serviço que você não encontrará em nenhum hotel do Ocidente.
Ontem visitamos o “War Remnants Museum”, em Saigon; nenhum cidadão que preze valores morais conseguiria se preparar para o impacto arrasador dos fatos documentados naquele museu. As atrocidades cometidas entre os povos do Norte e do Sul e vastamente ampliadas pelas tropas americanas é devastador. Uma guerra animalesca que tem seu lugar ao lado do Nazismo, do ataque do Hamas aos judeus, da invasão da Ucrânia, do ataque dos judeus em Gaza etc.
Saí atordoado, questionando a admiração que sempre nutri pelo povo americano. Quanta hipocrisia. Se a tropa que foi para o Vietnam representa o extrato da sociedade americana, deixo de acreditar na aparente boa intenção das suas críticas aos regimes autocráticos ou a tortura. A CIA comandou interrogatórios decepando membros ao ponto de só restar o tronco, já sem vida em virtude da hemorragia; tudo documentado e fotografado. Um horror! A meu ver, o que mudou foi a criação de um arcabouço jurídico que condena essas atrocidades. Mas, diante do que vemos nos conflitos de hoje, não tenho dúvida, a natureza dos homens não mudou”.
SSA: A Tarde, de 17/03/2024