Artigos de Jornal


A caneta e o poder econômico

  • 31 de Março de 2024

A CANETA E O PODER ECONÔMICO

Paulo Ormindo de Azevedo

Três casos vêm ocupando o noticiário local. O primeiro refere-se à construção de uma torre obstruindo um mirante da BTS, no Corredor da Vitória, e destruindo parte da Mata Atlântica para a construção de um píer. Os interessados seriam pessoas ligadas ao poder político. Vi no Youtube um vereador dizendo horrores de Gilberto Gil por ele protestar contra esta nova agressão a Salvador. Alegava ele que Gilberto Gil e outros moradores locais só defendiam seus privilégios de morarem na Vitória. O cantor foi Ministro da Cultura e sempre atuou politicamente em defesa da cultura e do meio ambiente em âmbito nacional. Gil tem uma obra cultural importantíssima e dele não se conhece nada.

A ligação do poder municipal com a especulação imobiliária é visceral e antiga. Onde existe uma casa, sua transformação em um espigão, multiplica o IPTU por 40 ou 80. Recentemente moradores do Horto Florestal protestaram pelo rompimento do TAC que só permitia casas no local, e consequente impacto sobre o tráfego local. Neste momento, moradores de Piatã protestaram pela quantidade de condomínios liberados no local e a incapacidade das ruas de suportar a demanda de tráfego. A cidade não tem planejamento. Os PDDUs servem apenas para contemplar o setor imobiliário e aumentar a receita municipal para financiar as empreiteiras. O interesse da população é o que menos importa. Enquanto a Prefeitura de São Paulo está desapropriando 110 km² para criação de parques, a nossa está vendendo as últimas áreas públicas. Nosso único parque tem mais de 50 anos.

Outro caso, é a construção de dois edifícios na praia de Buracão. Os moradores e banhista protestam, mas a empresa Novonor, antiga Odebrecht, procura justificar o empreendimento com a matéria “Parte dos moradores e frequentadores passa a defender novos prédios” publicada neste jornal em 24 passado. Um publicitário “desinteressado” procura esclarecer os “achismos” do público entrevistando os diretores da Odebrecht, cuja subsidiária Braskem é responsável pelo afundamento de cinco bairros de Maceió, que desalojou moradores e comerciantes de 15 mil imóveis. Tenta ele mostrar que os prédios só irão beneficiar a praia. Uma das fotos mostra um prédio de três andares construído na areia, em terreno da União, e que deve dar lugar ao empreendimento. Entre os entrevistados está o presidente da Ademi-BA, que diz que o órgão defende a sustentabilidade e a realização de estudos de impacto ambiental e do bioma. O publicitário só não explicou como a Odebrecht vai mudar a trajetória do sol para que os prédios não sobreem a praia.

Em Brasília e Rio há protestos pela aquisição de plataformas de petróleo no exterior. Na Bahia não há protestos pela desativação do estaleiro de São Roque pela ponte, único que poderia construir essas plataformas e já custou três bi.

SSA: A Tarde de 31/03/2024


Últimos Artigos