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Fazendo a coisa certa
Sem fazer alarde, o novo Secretário de Planejamento do Estado, Deputado Zezeu
Ribeiro, resolveu por ordem na casa, restaurando a indeclinável atribuição do
estado de “elaborar e executar planos de ordenação do território estadual e de
desenvolvimento econômico e social”. É o que se depreende da sua decisão de
rever a localização do Porto Sul e rediscutir o sistema de transporte de massa
da Região Metropolitana de Salvador – RMS, ao invés de engolir de olhos fechados
os planos carimbados de grupos econômicos do setor viário e da construção civil
para instalar o BRT – Ônibus de Transito Rápido na sigla inglesa – na ligação
Lauro de Freitas – Aeroporto - Salvador. O mesmo se diga da construção de uma
controvertida ponte de R$15 bilhões, neste momento de pré-inflação e
contingenciamento, cuja viabilidade técnica, econômica e urbana deverá ser
analisada por instituições independentes como a Fundação Getulio Vargas e
conceituadas universidades públicas.
O BRT, inventado em Curitiba na década de 70 e desenvolvido em Bogotá em 2000, é
um sistema interessante de transporte adequado a cidades planas de médio e
pequeno porte. Sua adoção em Bogotá, cidade duas vezes maior que Salvador, foi
possível graças ao traçado de suas avenidas largas em xadrez e topografia amena.
Não é o caso de Salvador, urbe com desníveis de 60 metros e ruas tortuosas e
estreitas, onde os ônibus articulados nunca funcionaram. Como solução
imediatista para a Copa é possível sua utilização na rota Aeroporto - Iguatemi –
Abacaxi, á custa dos canteiros centrais e canais de drenagem. Mas o sistema não
tem nenhuma condição de ser estendido até o centro tradicional, nem de ser um
sistema metropolitano de transporte capaz de descongestionar Salvador e
expandi-la na direção de Camaçari, onde estão as praias do Litoral Norte e o
complexo industrial do Copec e da Ford. O BRT não conseguirá nem mesmo
descongestionar a Paralela. É o barato que sairá caro.
Não podemos pensar Salvador em função de três anos e quatro jogos de futebol,
senão de trinta anos, quando a cidade deverá duplicar de população. O que está
em jogo é a definição do sistema de transporte de massa da RMS. A solução para s
engarrafamentos de Salvador será a conclusão da Linha 1 e implantação da Linha 2
do metrô. Neste sentido, o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos - é a solução
racional. Construído sobre trilhos capazes de suportar o futuro metrô ele será a
saída imediata e econômica para atender a FIFA e a transição natural para a
instalação da Linha 2, aquela que segue o principal vetor de expansão da cidade.
Nisto o arquiteto e urbanista Zezeu está coberto de razão. O VLT é confiável,
limpo, silencioso e pode deslizar sobre o gramado sem destruir os canteiros
centrais. Os carros do VLT depois da implantação do metrô serão utilizados na
Cidade Baixa, onde já há estudos para sua implantação.
Precisamos pensar nossa urbe como a Grande Salvador libertando-a da condição de
dormitório de 81% da população da RMS que trabalha e gera renda em municípios
como Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, S. Francisco do Conde e Candeias.
Por falta de área, o solo urbano em Salvador tem hoje um preço proibitivo e as
empresas imobiliárias avançam sobre as últimas áreas verdes e bairros
consolidados verticalizando-os além do limite crítico de suas vias criando mais
congestionamento para a cidade. A cidade está perdendo créditos do Governo
Federal para programas de habitação popular por não ter área para construir. O
setor produtivo, por sua vez, tem que arcar com uma onerosa frota de ônibus
ociosos, para levar e trazer operários diuturnamente por não termos uma rede
metropolitana de transporte de massa.
Vamos convir que nenhum turista com malas e cuia na mão, irá pegar um ônibus no
aeroporto ter que passar para o metrô no Abacaxi e chegar à Fonte Nova, sem
descansar em um hotel. Se sediar a Copa é apenas um compromisso com a FIFA, pois
não trará mais que 40.000 torcedores para uma cidade que recebe todo o ano meio
milhão de foliões, vamos fazer a coisa certa em beneficio da cidade. Parabéns
Zezeu !
SSA: A Tarde, 19/04/11