Artigos de Jornal
Os ilhéus não podem esperar
O ferry boat Salvador, à deriva há alguns anos, literalmente encalhou. Não
entendo! Existem no mundo alguns milhares de rotas de ferries ligando ilhas à
terra firme e entre si, no Pacifico, no Caribe, nos agitados Mares do Norte e
Báltico, no Mediterrâneo e até ligando continentes, como a que conecta Algeciras,
na Espanha, a Ceuta, em Marrocos. Até 1994 uma economia como a inglesa só se
ligava à européia por este meio. Apesar do Eurotúnel, existem hoje três empresas
operando ferries entre Calais e Dover. Para encurtar caminhos há vários ferries
que ligam Bari, na Itália, a Corfu, na Grécia, e Barcelona a Genova. Todos são
lucrativos e funcionam a contento.
O ferry de Salvador não funciona supostamente devido à sazonalidade da demanda.
Mas este fenômeno é comum a todos os meios de transportes - aviões, trens,
metrôs e ônibus - e é perfeitamente administrável. No Brasil ferries como os das
Baias de Guanabara e São Marcos, no Maranhão, e que ligam Santos a Guarujá e
Bertioga, funcionam bem. O de Salvador não funciona porque foi mal privatizado e
vem sendo mal administrado e fiscalizado.
As construtoras antevendo o encalhe tiraram do baú uma solução bilionária, a
ponte Salvador/Itaparica. Segundo os consórcios classificados na Manifestação de
Interesse, esse equipamento não custará menos que R$ 15 bilhões e oito anos para
ser concluído. Se a construção de um elevado de 6 km em terra já passa de onze
anos, apesar de ter sido reduzido à metade e ter seu orçamento duplicado,
imaginem uma ponte de oito faixas e 14 Km de extensão, mar adentro, enfrentando
profundidades de até 70 m. Quanto tempo tardará e quanto custará para começas a
funcionar? No mínimo vinte anos, e não pode ficar, como o metrô, na meia
travessa.
Não obstante fazerem parte da Região Metropolitana- RMS e estarem a 13 km, a
nado, de Salvador os municípios de Itaparica e Vera Cruz são dos mais atrasados
do Estado. Falta água e luz, não têm esgoto, recolhimento de lixo, escolas,
postos médicos e hospital que mereçam este nome. É evidente que os ilhéus e
veranistas itaparicanos não podem esperar 20 anos pela ponte salvadora. É
necessária uma solução emergencial. Um amigo sugere a recriação da Navegação
Baiana, pois o Mascote e o João das Botas funcionavam melhor que os atuais
ferries.
Prefiro outra alternativa, um verdadeiro caminho das pedras. Refiro-me á
interligação com pequenos saltos de estradas asfaltadas que já envolvem a Baia
de Todos os Santos, como a rodovia BA-878, trecho que vai de Acupe a Bom Jesus
dos Pobres, e BA-534, que liga São Roque/Salinas da Margarida/Funil. Uma ponte
ligando a Ponta do Dendê, em Salinas da Margarida, à Estação de Mocambo, na
ilha, colocaria Itaparica a uma distancia de Salvador equivalente à Sauipe.
Os demais saltos seriam na foz do Paraguaçu e do Subaé. Para completar a rota,
bastaria uma estrada litorânea ligando Aratu a Madre de Deus e São Francisco do
Conde com cerca de 35 km. Isto são obras que podem ser feitas em dois anos, para
a Copa, com a atuação concomitante de quatro ou mais empreiteiras. Se quisermos
diminuir o percurso e tornar esta viajem ainda mais aprazível, bastaria ligar a
Av. Suburbana com a Envolvente da Baia mediante uma ponte em Aratu.
Estaríamos assim reintegrando o Recôncavo ao Estado e criando um novo pólo de
turismo baiano, com a instalação de marinas, resorts e pousadas e melhoria do
acesso às cidades históricas da região, suas ilhas e praias. Estaríamos
incrementando o emprego com a criação de mercado para a pesca, a maricultura, a
agricultura familiar e a produção de barcos e lanchas em pequenos estaleiros.
Em prazo médio, deveremos prever a construção de uma rodo-ferrovia paralela à
estrada turística, exclusivamente de carga, capaz de trazer a soja e os minérios
do oeste pela BA-242 e pela Ferrovia Oeste/Leste diretamente ao porto de Aratu e
integrar complexos industriais como o COPEC, CIA, RELAN, TEMADRE e o estaleiro
de São Roque do Paraguaçu. Enquanto não se dá uma solução, Itaparica não pode
continuar sem serviços nem transporte, esperando a sorte, esperando a ponte,
esperando a...
SSA: A Tarde, 04/05/11