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Os ilhéus não podem esperar

  • 04 de Maio de 2011

O ferry boat Salvador, à deriva há alguns anos, literalmente encalhou. Não entendo! Existem no mundo alguns milhares de rotas de ferries ligando ilhas à terra firme e entre si, no Pacifico, no Caribe, nos agitados Mares do Norte e Báltico, no Mediterrâneo e até ligando continentes, como a que conecta Algeciras, na Espanha, a Ceuta, em Marrocos. Até 1994 uma economia como a inglesa só se ligava à européia por este meio. Apesar do Eurotúnel, existem hoje três empresas operando ferries entre Calais e Dover. Para encurtar caminhos há vários ferries que ligam Bari, na Itália, a Corfu, na Grécia, e Barcelona a Genova. Todos são lucrativos e funcionam a contento.

O ferry de Salvador não funciona supostamente devido à sazonalidade da demanda. Mas este fenômeno é comum a todos os meios de transportes - aviões, trens, metrôs e ônibus - e é perfeitamente administrável. No Brasil ferries como os das Baias de Guanabara e São Marcos, no Maranhão, e que ligam Santos a Guarujá e Bertioga, funcionam bem. O de Salvador não funciona porque foi mal privatizado e vem sendo mal administrado e fiscalizado.

As construtoras antevendo o encalhe tiraram do baú uma solução bilionária, a ponte Salvador/Itaparica. Segundo os consórcios classificados na Manifestação de Interesse, esse equipamento não custará menos que R$ 15 bilhões e oito anos para ser concluído. Se a construção de um elevado de 6 km em terra já passa de onze anos, apesar de ter sido reduzido à metade e ter seu orçamento duplicado, imaginem uma ponte de oito faixas e 14 Km de extensão, mar adentro, enfrentando profundidades de até 70 m. Quanto tempo tardará e quanto custará para começas a funcionar? No mínimo vinte anos, e não pode ficar, como o metrô, na meia travessa.

Não obstante fazerem parte da Região Metropolitana- RMS e estarem a 13 km, a nado, de Salvador os municípios de Itaparica e Vera Cruz são dos mais atrasados do Estado. Falta água e luz, não têm esgoto, recolhimento de lixo, escolas, postos médicos e hospital que mereçam este nome. É evidente que os ilhéus e veranistas itaparicanos não podem esperar 20 anos pela ponte salvadora. É necessária uma solução emergencial. Um amigo sugere a recriação da Navegação Baiana, pois o Mascote e o João das Botas funcionavam melhor que os atuais ferries.

Prefiro outra alternativa, um verdadeiro caminho das pedras. Refiro-me á interligação com pequenos saltos de estradas asfaltadas que já envolvem a Baia de Todos os Santos, como a rodovia BA-878, trecho que vai de Acupe a Bom Jesus dos Pobres, e BA-534, que liga São Roque/Salinas da Margarida/Funil. Uma ponte ligando a Ponta do Dendê, em Salinas da Margarida, à Estação de Mocambo, na ilha, colocaria Itaparica a uma distancia de Salvador equivalente à Sauipe.

Os demais saltos seriam na foz do Paraguaçu e do Subaé. Para completar a rota, bastaria uma estrada litorânea ligando Aratu a Madre de Deus e São Francisco do Conde com cerca de 35 km. Isto são obras que podem ser feitas em dois anos, para a Copa, com a atuação concomitante de quatro ou mais empreiteiras. Se quisermos diminuir o percurso e tornar esta viajem ainda mais aprazível, bastaria ligar a Av. Suburbana com a Envolvente da Baia mediante uma ponte em Aratu.

Estaríamos assim reintegrando o Recôncavo ao Estado e criando um novo pólo de turismo baiano, com a instalação de marinas, resorts e pousadas e melhoria do acesso às cidades históricas da região, suas ilhas e praias. Estaríamos incrementando o emprego com a criação de mercado para a pesca, a maricultura, a agricultura familiar e a produção de barcos e lanchas em pequenos estaleiros.

Em prazo médio, deveremos prever a construção de uma rodo-ferrovia paralela à estrada turística, exclusivamente de carga, capaz de trazer a soja e os minérios do oeste pela BA-242 e pela Ferrovia Oeste/Leste diretamente ao porto de Aratu e integrar complexos industriais como o COPEC, CIA, RELAN, TEMADRE e o estaleiro de São Roque do Paraguaçu. Enquanto não se dá uma solução, Itaparica não pode continuar sem serviços nem transporte, esperando a sorte, esperando a ponte, esperando a...

SSA: A Tarde, 04/05/11


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