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Votar em quem?

  • 01 de Julho de 2012

As eleições municipais se aproximam, o quadro politico é pouco claro e os eleitores estão confusos com a propaganda vazia chapa-branca e privada. Os partidos perderam suas identidades e as lideranças politicas estão desgastadas com alianças espúrias. O fisiologismo domina a cena. Neste quadro de despolitização, o carisma do candidato e seu programa de governo poderão ser decisivos.

Mas até agora nenhum candidato apresentou um programa de governo, apostando na liturgia do vazio, para não desagradar a nenhum grupo. Isto não significa que não tenham compromissos com partidos de aluguel e financiadores de campanha, apenas que eles não revelam. Iremos, assim, votar em caixas pretas, cujos conteúdos só serão revelados por ações ao longo do governo do candidato vencedor.

Nos EE.UU e Europa existem também lobbies, mas como eles têm partidos fortes, elas são contrabalançadas por compromissos em discursos durante as disputas dentro do partido e na reta final da eleição. O debate televisivo apenas sela os compromissos públicos prévios. Isto não ocorre na América Latina.

Estes mesmos compromissos secretos existem na eleição dos vereadores, que ratificam as ações do Prefeito. A Câmara seria a intermediária entre a cidadania e o Executivo Municipal, mas ela perdeu credibilidade e novas mídias ocuparam seu lugar, permitindo a qualquer um entrar nos gabinetes governamentais e nos lares sem pedir licença ou ser barrado por seguranças, dispensando aquela intermediação. As redes sociais tanto podem eleger como derrubar governantes.

Na falta de compromissos com a sociedade, algumas associações civis, como “Vozes de Salvador”, “A cidade também é nossa” e o “Movimento Desocupa” elaboraram um programa de governo para a cidade, que foi subscrito por alguns candidatos. Mas este compromisso ficou restrito a um grupo relativamente pequeno de associações e cidadãos.

Dirigir uma cidade com dois e meio milhões de habitantes requer um segundo e terceiro escalões capazes, mais que bem intencionados. Entre um “quadro” despreparado e um técnico descompromissado é preferível o descompromissado, porque este dá fora quando quer e o despreparado erra toda hora. Sabemos que as coligações partidárias não vão querer abrir mão desses cargos, mas é mais fácil administrar uma centena de correligionários e financiadores irados, que dois milhões e meio de “indignados” que em poucas semanas podem queimar pelas redes sociais a imagem tão duramente construída do novo prefeito.

Salvador é hoje uma cidade dormitório, que provê moradia, transporte, abastecimento, saúde, educação, lazer e cultura para uma população que gera riqueza em outros municípios e não tem como se sustentar. Para mudar este quadro, o novo prefeito tem que assumir uma posição de liderança metropolitana, criando um consórcio capaz de compartir atribuições com os demais municípios da RMS, já que o Estado está mais preocupado com Feira de Santana, que virou região metropolitana de ficção. Liderar uma região que detém metade do PIB do estado é virtualmente deter metade do poder politico estadual.

Controlar as imobiliárias e empreiteiras é mais complicado, mas não impossível. É urgente instalar o Conselho da Cidade, rever o PPDU, a LOUS, o Transcon e o IPTU como instrumentos de gestão publica, e incentivar a urbanização sustentada dos municípios que compõem a RMS. Uma possível solução para este último ponto é a transformação do Transcon municipal em metropolitano. Mas para enfrentar o poderoso lobby especulativo, o novo prefeito tem que fortalecer a Sociedade Civil e se apoiar nela.

O trafego é um dos mais graves problemas da cidade. Perdem-se milhões de horas de trabalho e descanso nos engarrafamentos. A frota de carros continuará a crescer porque o Governo Federal reduziu o IPI e os juros para vender mais carros. Mas pode-se controlar sua circulação proibindo o estacionamento nas vias de transportes coletivos e limitando-se as vagas nos novos condomínios. O espaço assim conquistado deve ser transformado em novas faixas expressas, ciclovias e passeios menos mesquinhos. Salvador tem solução. Façam uma fezinha!

SSA: A Tarde, 01/07/12


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