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Votar em quem?
As eleições municipais se aproximam, o quadro politico é pouco claro e os
eleitores estão confusos com a propaganda vazia chapa-branca e privada. Os
partidos perderam suas identidades e as lideranças politicas estão desgastadas
com alianças espúrias. O fisiologismo domina a cena. Neste quadro de
despolitização, o carisma do candidato e seu programa de governo poderão ser
decisivos.
Mas até agora nenhum candidato apresentou um programa de governo, apostando na
liturgia do vazio, para não desagradar a nenhum grupo. Isto não significa que
não tenham compromissos com partidos de aluguel e financiadores de campanha,
apenas que eles não revelam. Iremos, assim, votar em caixas pretas, cujos
conteúdos só serão revelados por ações ao longo do governo do candidato
vencedor.
Nos EE.UU e Europa existem também lobbies, mas como eles têm partidos fortes,
elas são contrabalançadas por compromissos em discursos durante as disputas
dentro do partido e na reta final da eleição. O debate televisivo apenas sela os
compromissos públicos prévios. Isto não ocorre na América Latina.
Estes mesmos compromissos secretos existem na eleição dos vereadores, que
ratificam as ações do Prefeito. A Câmara seria a intermediária entre a cidadania
e o Executivo Municipal, mas ela perdeu credibilidade e novas mídias ocuparam
seu lugar, permitindo a qualquer um entrar nos gabinetes governamentais e nos
lares sem pedir licença ou ser barrado por seguranças, dispensando aquela
intermediação. As redes sociais tanto podem eleger como derrubar governantes.
Na falta de compromissos com a sociedade, algumas associações civis, como “Vozes
de Salvador”, “A cidade também é nossa” e o “Movimento Desocupa” elaboraram um
programa de governo para a cidade, que foi subscrito por alguns candidatos. Mas
este compromisso ficou restrito a um grupo relativamente pequeno de associações
e cidadãos.
Dirigir uma cidade com dois e meio milhões de habitantes requer um segundo e
terceiro escalões capazes, mais que bem intencionados. Entre um “quadro”
despreparado e um técnico descompromissado é preferível o descompromissado,
porque este dá fora quando quer e o despreparado erra toda hora. Sabemos que as
coligações partidárias não vão querer abrir mão desses cargos, mas é mais fácil
administrar uma centena de correligionários e financiadores irados, que dois
milhões e meio de “indignados” que em poucas semanas podem queimar pelas redes
sociais a imagem tão duramente construída do novo prefeito.
Salvador é hoje uma cidade dormitório, que provê moradia, transporte,
abastecimento, saúde, educação, lazer e cultura para uma população que gera
riqueza em outros municípios e não tem como se sustentar. Para mudar este
quadro, o novo prefeito tem que assumir uma posição de liderança metropolitana,
criando um consórcio capaz de compartir atribuições com os demais municípios da
RMS, já que o Estado está mais preocupado com Feira de Santana, que virou região
metropolitana de ficção. Liderar uma região que detém metade do PIB do estado é
virtualmente deter metade do poder politico estadual.
Controlar as imobiliárias e empreiteiras é mais complicado, mas não impossível.
É urgente instalar o Conselho da Cidade, rever o PPDU, a LOUS, o Transcon e o
IPTU como instrumentos de gestão publica, e incentivar a urbanização sustentada
dos municípios que compõem a RMS. Uma possível solução para este último ponto é
a transformação do Transcon municipal em metropolitano. Mas para enfrentar o
poderoso lobby especulativo, o novo prefeito tem que fortalecer a Sociedade
Civil e se apoiar nela.
O trafego é um dos mais graves problemas da cidade. Perdem-se milhões de horas
de trabalho e descanso nos engarrafamentos. A frota de carros continuará a
crescer porque o Governo Federal reduziu o IPI e os juros para vender mais
carros. Mas pode-se controlar sua circulação proibindo o estacionamento nas vias
de transportes coletivos e limitando-se as vagas nos novos condomínios. O espaço
assim conquistado deve ser transformado em novas faixas expressas, ciclovias e
passeios menos mesquinhos. Salvador tem solução. Façam uma fezinha!
SSA: A Tarde, 01/07/12