Artigos de Jornal
Inventariados os bens culturais da C. Diamantina e Serra Geral
A Secretaria da Indústria e Comércio acaba de publicar mais um volume
do IPAC-BA, Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. A região
estudada neste volume é a Chapada Diamantina e a Serra Geral, a maior até agora
inventariada, compreendendo quatro microrregiões e 85 municípios.
O IPAC-BA é um projeto pioneiro do governo do Estado que conta com o apoio da
Secretaria do Planejamento da Presidência da República e Secretaria de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Este projeto destina-se a identificar
e cadastrar todos os monumentos arquitetônicos e sítios de interesse cultural,
situados no Estado, visando a sua proteção. Em volumes anteriores foram
cadastrados o município de Salvador e a parte oriental do Recôncavo da Baia de
Todos os Santos, regiões muito densas de bens culturais.
Nesse 4º volume, recém-publicado, a região montanhosa central do Estado foi
integralmente levantada. Neste cenário, um dos mais belos da Bahia, se
desenvolveram as civilizações do ouro e dos diamantes. A primeira, a partir da
descoberta de pepitas, no início do século XVIII, nas cabeceiras do Rio de
Contas e em Jacobina. A segunda, em meados do século passado (s. XIX), quando se
descobriram ricas “faisqueiras” nas nascentes do Paraguaçu, atraindo enormes
contingentes de garimpeiros e aventureiros das já exauridas jazidas de Minas
Gerais e senhores de engenho e comerciantes do Recôncavo, já em crise, que para
lá se deslocaram com seus escravos, em busca da fortuna fácil.
Ciclos de mineração
A arquitetura e o urbanismo destes dois ciclos de mineração são diferentes. No
primeiro caso nota-se a presença de traços da arquitetura da costa, no segundo
constata-se a influência das construções mineiras e dos últimos modismos
europeus, como o neogótico. Do ciclo do ouro ficaram conjuntos urbanos como o de
Rio de Contas, do ciclo de diamantes conservam-se cidades como Mucugê, Andaraí,
Igatu e Lençóis. À margem dos caminhos da Serra Geral, por onde transitavam os
garimpeiros que iam e vinham entre Minas Gerais e Bahia, surgiram grandes
fazendas que abasteciam os núcleos de mineração da Chapada Diamantina. Nessa
área restaram especialmente grandes e belas casas rurais.
No final do século passado, a descoberta de enormes jazidas de diamantes na
África do Sul pôs em crise a mineração baiana. A depressão econômica acirrou a
competição entre os líderes regionais. No início deste século (XX), a Chapada
Diamantina se conflagra e mergulha na decadência. Recentemente, porém, novo
surto de progresso toma conta da região, pondo em risco os vestígios do seu
passado. Por esta razão, avançamos no inventário da Chapada Diamantina, mesmo
antes de outras regiões mais antigas.
A equipe do IPAC-BA cadastrou na região estudada quatro centros históricos e 165
monumentos que vão desde “locas”, grutas naturais transformadas em habitações,
até igrejas com tetos em perspectiva ilusionista, e imponentes
casas-de-câmara-e-cadeia. Cada ficha do inventário contém a descrição do
monumento, avaliação do seu estado de conservação, plantas-baixas, histórico,
dados técnicos, tipológicos e jurídicos e ampla documentação fotográfica.
Preservação
A secretaria da Indústria e Comércio pretende estender a todo o Estado os
trabalhos do inventário. Atualmente, estão sendo levantados a parte ocidental do
Recôncavo e o litoral baiano, que deverão ser objetos de mais dois volumes do
IPAC-BA. Essa experiência demonstra que os inventários de proteção têm dois
efeitos: primeiro, o de servir como um banco de dados que é utilizado pelos
órgãos públicos ligados ao planejamento, à preservação e à promoção turística
para racionalizarem as suas ações; segundo, como instrumento de formação de
consciência popular em defesa dos bens culturais.
O trabalho pioneiro desenvolvido pelo IPAC-BA foi reconhecido em âmbito
internacional durante o 1º Encontro Sobre Inventários de Proteção do Patrimônio
Cultural realizado aqui em Salvador, nos últimos dias de agosto, sob o
patrocínio da Secretaria de Industria e Comercio, SPHAN e Fundação Roberto
Marinho.
SSA: A Tarde, 17/11/1980